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Investimentos: visão produto x visão estratégica

Recebo com muita frequência perguntas de pessoas sobre em que investir. É impressionante como uma pergunta simples como essa me causa um transtorno gigantesco.

Algumas grandes questões que sempre povoam meus pensamentos nesse momento são: Será que estamos falando da mesma coisa? Será que as expectativas estão alinhadas? Será que existe um planejamento financeiro?

O fato, é que raramente as pessoas fazem um planejamento financeiro e, ao invés de simplesmente dizer: “aplique nisso ou naquilo”, precisamos eliminar uma grande lacuna de conceitos, expectativas e, inevitavelmente, dar diversos passos atrás.

Mas, por que isso ocorre?

Na minha visão, isso ainda ocorre por conta de uma herança maldita que carregamos que é o de tomar decisões de investimentos isoladas. A grande maioria não pensa em “carteira de investimentos”, em “estratégia de investimentos”, mas sim em produtos de investimentos. Sobrou um dinheiro e vem a pergunta fatídica: “André, é melhor eu aplicar nisso ou naquilo? Bolsa ou poupança?”.

Sofro muito, pois o meu desejo é o de dizer o seguinte: “Sua pergunta está errada!”. Se você tem um plano, já saberia de antemão pra onde iria o dinheiro que ainda nem chegou!

O planejamento financeiro

Quando possuímos um planejamento financeiro, normalmente possuímos objetivos, metas, desejos a serem conquistados. Esses desejos podem ser: adquirir um imóvel, planejar a aposentadoria, custear a educação dos filhos, fazer uma mega viagem, passar um ano velejando pelo mundo, etc.

Para suprir cada um desses objetivos, as estratégias podem ser completamente diferentes e, uma mesma sobra de capital, pode ser aplicada em diversos produtos completamente diferentes. A necessidade de liquidez, o tamanho do capital e também a tolerância ao risco do investidor, também são fundamentais e adicionam-se aos componentes que precedem a tomada de decisão.

Dessa forma, uma decisão de investimento sempre deverá estar subordinada a um planejamento financeiro. E cada planejamento tem suas metas: metas que precisam se realizar em prazo imediato ou curto prazo, metas que serão realizadas em médio prazo e metas que serão realizadas em longo prazo.

A visão produto

A visão produto é aquela miopia que nos trai, quando olhamos individualmente nossos investimentos. Usamos um determinado recurso para fazer uma fézinha na bolsa (porque é nisso que, muitas vezes, acaba se transformando tal investimento). Assim, ao optar por um investimento como esse, só olhamos pra ele. E, se não sabemos exatamente de que se trata, vem a frustração. Você tem 100 mil. Aplica 10 mil num fundo de ações, o fundo cai, junto com o ibovespa, e você entra em pânico dizendo: “estou perdendo dinheiro na bolsa!”.

Uma outra pergunta que o investidor faz e que escancara sua falta de planejamento é: “o que está dando mais atualmente?”

Como assim o que dá mais atualmente? Se ele olhar só rentabilidade, tudo bem. Mas uma carteira NÃO É MONTADA unicamente sobre a premissa da rentabilidade!

Aliás, quando isso acontece, fatalmente o investidor JOGA DINHEIRO FORA e PERDE rentabilidade, por não equacionar bem seu plano.

A visão estratégica

Já para os investidores mais experientes, a análise é completamente diferente. Estuda-se uma composição de portfólio que ofereça uma relação risco-retorno ajustada ao perfil do investidor, aos objetivos e aos prazos da carteira. Ultrapassada a primeira fase (do planejamento financeiro, dos objetivos e dos fatores mencionados acima) farei uma demonstração simplificada de gestão de portfólio.

Estudo de caso:

Imagine que exista uma carteira de 100 mil. Que a taxa anual obtida por aplicações de renda fixa sejam, por exemplo, de 7% ao ano. Assim vou montar a minha carteira de investimentos da seguinte forma:

  • 90% – 90 mil em renda fixa, cuja minha expectativa de remuneração é de 7% a.a. (taxa ilustrativa)
  • 10% – 10 mil em renda variável, cuja minha expectativa de remuneração é de 20% a.a.

Porém, devo lembrar que os 10 mil estão numa classe de ativos chamada de RENDA VARIÁVEL. Portanto, pode dar 20% no ano, pode dar 50% no ano, ou pode PERDER 50% no ano, por exemplo.

O que posso esperar dessa carteira?

Cenário 01:

Primeiro, posso esperar que haja uma crise econômica, nas proporções da de 2008, onde o índice bovespa chegou a 60% de queda. Nesse cenário, eu teria uma rentabilidade de 7% na carteira de renda fixa e perderia 60% na parte de bolsa. Assim, ao final do ano eu teria:

> Renda fixa: 96,3 mil (+7%)

> Renda variável: 4 mil (-60%)

> Total da carteira: 100,3 mil – valorização total da carteira de 0,3% no ano.

Ou seja, repare que nesse caso, minha exposição em renda variável diz que eu aceito o risco de não obter rentabilidade nenhuma em toda a minha carteira (mas não terei prejuízo caso algo muito ruim aconteça).

Cenário 02:

Caso as minhas expectativas se confirmem, terei o seguinte:

> Renda fixa: 96,30 mil (+7%)

> Renda variável: 12 mil (+20%)

> Total da carteira: 108,30 mil – valorização total da carteira de 8,30% no ano

Dessa forma, não seria nenhum absurdo, eu entender que a minha carteira estaria posicionada no intervalo entre + 0,3% a.a. e 8,30% a.a.

Bom, já que consideramos a possibilidade de uma queda de 60% (como em 2008), também poderíamos considerar uma alta de 60% (em 2009, subiu 80%), poderíamos ampliar o intervalo dessa carteira para +0,3% e +12,30%.

A alocação estratégica dos recursos

Em função do meu perfil de investidor, da rentabilidade que eu queira atingir, atrelado ao seu respectivo risco, posso calibrar minha alocação de recursos. Posso, por exemplo, ter 20% de minha posição em renda variável. Dessa forma, aplicando os mesmos cenários 1 e 2 acima, eu estaria montando uma carteira cujo risco seria 6,40% de perda para um ganho possível de 9,6%. A pergunta é: estou disposto a isso?

O acompanhamento da carteira

Outro ponto importante é o acompanhamento da carteira. Na verdade é crucial. Ouvimos todos os dias que bolsa, deve-se comprar na baixa e vender na alta. No entanto, se alguém me disser com certeza quando é a baixa e a alta, eu agradeço. Isso só é possível observar DEPOIS que o mercado acontece.

Uma das formas mais simples de achar esses pontos, é justamente o acompanhamento periódico da carteira. Vamos supor que eu tenha feito a alocação de 80% em RF e 20% em RV conforme falado acima.

No primeiro ano, ocorreu o cenário caótico de perda de 60% em bolsa e ganho de 7% em RF. Dessa forma, ao final do período, eu terei, a minha “pizza” de investimento alterada. Não estarei mais com 80% em RF e 20% em RV. Veja abaixo:

Momento 1:

> RF = 80 mil = 80%

> RV = 20 mil = 20%

> Total = 100 mil = 100%

Momento 2 (depois de 1 ano com queda de 60% na bolsa e 7% na renda fixa):

> RF = 85,6 mil = 91,45%

> RV = 8 mil = 8,55%

> Total = 93,6 = 100%

Balanceamento da carteira:

Nesse caso, ao refazer o balanceamento e voltar a proporção planejada, eu deveria ajustar a posição conforme abaixo:

> Sacar 10,8 mil da RF. O saldo final será de 74,8 em RF = 80% da carteira

> Aplicar 10,8 mil na RV. O saldo final será de 18,8 em RV = 20% da carteira

Com uma medida simples como essa, você estará, certamente, comprando bolsa na baixa e vendendo na alta, quando a carteira se valorizar em RV e você fizer o novo rebalanceamento, obterá bons lucros e fará sua respectiva realização.

Voltando à questão inicial

Dessa forma quando sobra um dinheiro, a resposta à pergunta será uma outra pergunta: “Como é seu planejamento de investimentos e como ele está hoje?” A única coisa que precisará ser feita, é tentar alocar o novo recurso de forma a corrigir as distorções ocasionadas pelos movimentos de mercado, se aproximando ao máximo, da carteira planejada e de suas proporções originais.

E dessa forma, seus aportes se seguirão… Sempre subordinados a uma estratégia de investimentos e não a visão-produto.

Ok, mas no final das contas, em quais produtos devo aplicar?

Perfeito! Depois de saber em que “classe de ativo” será feita a aplicação adicional, somente aí, realmente precisaremos escolher os produtos de investimento que serão aderentes à estratégia e escolher os melhores dentro de cada prazo de investimento e categoria.

E assim é montada e gerenciada uma carteira de investimentos…

Grande abraço!

André Bona

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André Bona possui mais de 10 anos de experiência no mercado financeiro, tendo auxiliado milhares de investidores a investir melhor seus recursos e é o criador do Portal André Bona - site de educação financeira independente.

12 Comentários

  1. Andre, vi o extrato da minha corretora e não consegui encontrar o quanto eu gastei de corretagem na compra e venda de açoes. Claro que da pra encontrar fazendo uma varredura e analisando cada compra e cada venda de todas as ações e mesmo assim tem que se considerar quando houve alterações no preço da corretagem que da trabalho também. Isso isso gasta muito tempo e trabalho e como resultado não da pra saber sempre…na verdade nao fiz até hoje…PERGUNTA: É LEGAL NAO TER NO EXTRATO O GASTO COM CORRETAGEM?

  2. MILTON SUGAHARA on

    Já sou cadastrado e meu orientador (?) é Hiago de Souza. Estou tentando ser cadastrado no XPi mas não consigo.
    Grato
    Milton Sugahara

  3. André, sou um cara admirador do seu trabalho de educador financeiro e acompanho muitos dos seus vídeos e textos, motivo que me levou a trocar a assessoria da XP, pela Valor Investimentos.
    Esse é um dos textos e vídeos que muito me fez escolher a nova assessoria, pois como não sou do ramo financeiro e tenho pouco conhecimento, assim como pouco tempo, senti a necessidade de uma orientação na elaboração da minha carteira, considerando meus objetivos e meu perfil de risco.
    A minha carteira de investimentos foi elaborada sem nenhuma orientação previa, por profissional do ramo e sempre tive a impressão de ser um “PRODUTEIRO”
    Quando solicitei essa orientação ao meu assessor, que por sinal é um profissional extremamente cortez e conhecedor dos produtos de investimentos, continuei com certa insegurança e estou tendo a impressão que continuo sendo um “comprador de produtos” com os meus aportes mensais na corretora e não estou com a certeza de estar realizando a “alocação estratégica dos recursos”, como o texto acima!
    Estou aqui, apenas fazendo uma crítica construtiva e ao mesmo tempo incentivando para que a assessoria da Valor tenha uma mentalidade de investimentos alinhada à sua!
    Grande abraço!

    • Rodrigo, obrigado pelos seus comentários.
      Só preciso fazer uma distinção entre Blog de Valor (que é meu blog de conteúdo) e a Valor Investimentos, que é a empresa de assessoria que coordeno uma equipe de assessores. São empresas diferentes com finalidades diferentes.
      Vou te enviar um email direto para entender melhor a situação da assessoria para que possamos ajustar isso.
      Sim, a equipe é orientada a atuar na perspectiva do planejamento e isso é mandatório, sem dúvida alguma.
      Abs,

  4. Ricardo O Pinto on

    Alguns erros.
    No áudio o 1o exemplo fala em ganho de 3%. Não! É 0.3%!
    No 2o exemplo há uma perda em valores abdolutos de 6.4% o que somado a uma inflação de 6% (otimista) representa uma perda real de mais de 12% após um ano.
    André, isto precisa ficar mais claro na sua palestra.
    Abraços
    Ricardo

    • Ricardo, esse é um exercício. Não tome as rentabilidades como verdadeiras para o momento em que você lê o artigo.
      A selic over HOJE (17/03/16) é de 14,15%. Então se você aprende o conceito, você será capaz de adaptar para os casos de acordo com o momento. Senão eu teria que fazer o mesmo artigo toda vez que os dados se modificam. Faz sentido? Não né..
      Abs,

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