Quando o assunto é bolsa de valores, recebo sempre o questionamento de investidores iniciantes sobre se “esse é o momento” ou “qual era minha recomendação”.
Essas perguntas são as mais feitas pelas pessoas, no entanto, infelizmente é IMPOSSÍVEL respondê-las dessa forma. Depende do prazo do dinheiro, do montante, do objetivo do investimento e do tipo de estratégia que se quer adotar.
Para começar a clarear o assunto, colocarei aqui as diferenças básicas entre as duas escolas de análise para investimentos em bolsa de valores, que são: ANÁLISE FUNDAMENTALISTA e a ANÁLISE TÉCNICA. Cada investidor irá se sentir a vontade em cada uma delas, nas duas ou em nenhuma. Isso diz respeito ao perfil de cada um.
Análise fundamentalista
A análise fundamentalista contempla as informações relacionadas à conjuntura econômica, perspectivas, balanços das empresas, quais são os investimentos previstos, como as empresas esperam crescer, quais são as expectativas para o segmento onde atuam e quais são as influências externas que podem impactar o negócio. Trata-se de uma visão de longo prazo do negócio, do segmento onde está inserido e como as empresas irão reagir e entregar seus resultados futuros. Trata-se de analisar o negócio da empresa em si e as condições de oferta e demanda pelos seus produtos e serviços.
A análise fundamentalista tenta mensurar qual seria o preço justo de uma ação e, em tese, qualquer valor da ação abaixo do preço justo indica uma oportunidade de compra. Porém mesmo fazendo uma análise fundamentalista correta, com indicadores corretos, uma leitura correta e efetuando a compra de uma ação num valor promissor, nada garante que essa ação subirá no curto prazo. Inclusive ela pode cair um dia, dois dias, uma semana, até um ano inteiro.
Se o investidor fundamentalista faz a compra de uma ação num preço X por entender se tratar de uma oportunidade e a ação despenca por períodos seguidos, o seu raciocínio é de que, se as suas análises continuarem válidas, melhor ainda será a condição para adquirir ainda mais ações.
Portanto, a análise fundamentalista é extremamente interessante para longo prazo, para uma parte do dinheiro que não precisaremos num prazo definido. Mas poderá oferecer grandes sustos ao investidor inexperiente num prazo mais curto.
Pela experiência que tenho, é muito comum um investidor inexperiente tentar fazer todas as leituras do mercado, fazer uma compra fundamentalista e entrar em desespero com uma queda de uma semana. Portanto, quando isso ocorre é porque o investidor não tem consciência do que esperar da estratégia que escolheu.
Os múltiplos fazem parte dos fatores considerados pela análise fundamentalista:
- P/L = é o preço da ação dividido pelo lucro líquido da ação. Esse múltiplo indica o tempo teórico (anos) de retorno sobre o investimento feito. Quanto menor, melhor.
- P/VPA = é o preço da ação dividido pelo valor patrimonial da ação. Esse múltiplo indica quanto a ação representa com relação ao valor contábil patrimonial da empresa. Quando é acima de 1, indica que o preço da ação no mercado é maior do que o preço contábil (que é o normal!). Quando é abaixo de 1, significa que o valor negociado em bolsa está menor que o valor do próprio patrimônio da empresa. Tratando-se de uma empresa sólida e lucrativa, pode se tratar de um excelente momento de compra por fundamento.
- Pay-out = é o total dos dividendos pago pela empresa num determinado período dividido pelo lucro líquido, no mesmo período. A resposta é em % e indica quanto do lucro da empresa é distribuído aos acionistas.
- Dividend Yield = é o valor do dividendo dividido pelo preço da ação. Revela o percentual do preço da ação que voltou ao acionista sob a forma de dividendo.
Um site que ajuda muito a acompanhar os múltiplos é: www.fundamentus.com.br.
Fatores que fundamentalistas buscam:
- Potencial de crescimento da empresa
- Lucro
- Boa administração
- Governança corporativa
- Diversificação setorial
Análise técnica
Já a análise técnica não se preocupa com nada disso que a a análise fundamentalista avalia. Em última instância, a decisão por análise técnica não necessita entender nem mesmo o que produz aquela empresa onde o investidor está investindo o seu dinheiro. A única preocupação da análise técnica é avaliar o comportamento dos preços dos ativos e identificar pontos de compra e de venda.
O analista técnico quer ganhar quando uma empresa sobe e vender antes que ela caia. Mais nada. Para o analista técnico é desnecessário conhecer o segmento, o mercado, a conjuntura. O importante é analisar comportamento dos preços dos ativos e tomar as decisões baseadas nesse comportamento. Sua ferramenta de análise é o gráfico composto pelo tempo no eixo X e pelos preços no eixo Y.
A teoria de Dow é a base da análise técnica, e parte dos seguintes princípios:
- Todos os fatores externos já estão embutidos no último preço
- Os preços se movimentam em tendências
- O futuro repete o passado
- O volume deve confirmar a tendência
À partir do gráfico, o analista técnico trabalha no “setup” de suas estratégias e encontra momentos de entrada e saída para cada ativo.
Exemplo de um gráfico com estudos técnicos:
O analista técnico considera ferramentas como: médias móveis, IFR, formato dos candlesticks, ondas de Elliot, gaps, suportes e resistências, canais de alta e de baixa, bandas de bollinger, formatos de figuras (triângulos, cunhas, retângulos, bandeiras e flâmulas), etc.
Tudo isso requer muito estudo e um desenvolvimento constante.
Em suma, o analista técnico pretende se aproveitar desses movimentos e encontrar oportunidades, inclusive, ganhando enquanto ações de empresas, até mesmo sem fundamentos, se movimentam no mercado. Um investidor que opera por analise técnica faz muito mais operações do que um que opera por fundamentos e por isso acaba assumindo maiores riscos também. Seu objetivo é maximizar ganhos em prazos menores, encontrando oportunidades nas oscilações do dia a dia.
Conclusão:
Se a sua expectativa é tentar obter retorno na oscilação dos preços dos ativos, a análise técnica é mais recomendada. Se o seu objetivo é o longo prazo, não se importando com as oscilações que vão surgir ao longo do caminho, a análise fundamentalista é mais adequada.
Antes de tomar qualquer decisão de investir em ações, tenha em mente os objetivos das duas escolas de análise para tentar se enquadrar na mais adequada ao seu perfil. E não se assuste se você PENSAR que possui um perfil e depois descobrir que o seu perfil na verdade é o outro. Uma coisa que o mercado de ações proporciona ao investidor que nele se aventura é, sem dúvida, a oportunidade de auto-conhecimento e de muito aprendizado!
Grande abraço!
André Bona
11 Comentários
Muito interessante e esclarecedor esse seu artigo, definitivamente ter estes aspectos esclarecidos é essencial para introdução á pratica de investimentos.
Sensacional, André! Mais didático que isso, impossível! Muito obrigado! Forte abraço!
Andre boa tarde essa media de 50 a 200 dias e para longo prazo? E precisa por stop num investimento de longo prazo no caso de se tornar socio de empresas sou leigo no assunto,obrigado pela atencao e bons traders rs rs rs rs!!!
Em tempo, Bender, vou escrever sobre uma estratégia de médias móveis que gosto muito. Chego a chamá-la de “a mais fundamentalista das estratégias gráficas”… rs…
Por default fica na tela aqui as médias móveis de 50 e 200 dias. Acompanho pouco isso. Identificar suportes e resistências me atrai mais.
“P/L = é o preço da ação dividido pelo lucro líquido da ação.”
“Pay-out = é preço da ação dividido pelo lucro líquido da ação.”
Então é a mesma coisa?
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Boa explanação. Na teoria é isso aí mesmo. Já na prática…
Nunca vi um trader grafista comprar (ou vender) uma ação sem saber do que se trata. Outro dia achamos uma ação que o gráfico indicava bom preço para a compra (preço baixo). Fui verificar do que se tratava a empresa e nem achei no google. Porra… vc confia numa empresa com ações na bolsa que nem Home Page tem???
E também aposto que não deve existir um trader fundamentalista que não olhe o comportamento dos preços das ações no gráfico e se utilize das análises técnicas.
Há uma ponderação entre as correntes.
É por aí.
Na verdade, o problema da mistura das estratégias é entrar com uma estratégia definida e mudar no decorrer do percurso por “medo” ou falta de confiança na própria estratégia. Já atendi MUITOS, muitos mesmo, clientes que quando o trade dava errado e um stop pre-definido em sua estratégia era com 2% de queda, por exemplo, ao invés de executá-la, optou por “segurar” a ação achando que a empresa era isso ou aquilo. Isso é um erro, porque se a entrada é curta, fatores fundamentalistas não irão modificar ou orientar flutuações curtíssimas. E acaba que o investidor vira um torcedor a mercê dos movimentos. Resultado de um desses casos: as ações despencaram quase 30% e um desses investidores está esperando até hoje…
O fato é que a análise gráfica é mais recomendada para papéis com liquidez. Quanto maior a liquidez, ou seja, o volume de negócios, mais acertado o estudo tende a ser, pois oferece uma amostragem mais confiável. Portanto, uma coisa que acaba unindo as duas escolas é esse. Se você quer gráficos, precisa de liquidez. Se quer liquidez, cairá em blue chips naturalmente…
Portanto, pode-se usar a fundamentalista para definir O QUE COMPRAR/VENDER. E a análise técnica ou gráfica para QUANDO COMPRAR/VENDER. Essa é uma forma mesclada de enxergar.
Já um investidor essencialmente fundamentalista, eu acho que desconsidera totalmente o gráfico. Mas considera os múltiplos.
Não falo em mudar no meio do caminho. Falo em entrar de cara com tal “mistura”.
Fatores gráficos e fundamentais afetam muitas vezes em momentos diferentes a trajetória dos preços. Cabe ao trader acertar na dose e no momento. No entanto, essa tarefa não é das mais simples. E claro que essa tarefa torna-se ainda mais acentuada em um cenário de incerteza. Paradigmas são quebrados.
Do que já percebi, o profissional de mercado deve ponderar as duas análises SEMPRE, não se limitando a nenhuma dessas correntes, e procurar buscar o que há de melhor em cada escola para formar uma ideia mais racional. O doido fica menos propenso a sustos e decepções.
Concordo que a análise fundamentalista não tem a precisão da análise grafista, com suas tendências e pontos de inversão (suportes, resistências). Porém, é “fundamental” o estudo da demanda, oferta, o nível dos estoques, os índices de liquidez e endividamento, para uma melhor complementaridade das análises.
Eu acho que é temerário quando um investidor PERDE ou GANHA dinheiro em bolsa SEM SABER DOS RISCOS ou SEM TER UMA ESTRATËGIA.
Sempre digo que o período compreendido entre 2002 e 2008 na bovespa construiu um grupo enorme de investidores aventureiros que apenas compravam qualquer porcaria e esperavam subir… era uma renda fixa com maior retorno… E deixaram de estudar e compreender o que é o mercado… Do ponto de vista do aprendizado, foi um período tenebroso…
Eu gostei do boom de pessoas físicas na bolsa nos últimos anos.
Nêgo só aprende na porrada, quando mexe no próprio bolsa.
Fiz a correção no texto. O pay-out é o contrário: (lucro / preço) x 100 (resposta em %).
Obrigado pela observação.