Investindo por meio de cooperativa de crédito
Recentemente eu recebi no meu canal no Youtube uma mensagem de um leitor que me questionou sobre investimentos por meio de cooperativas de crédito. Achei interessante o tema e por isso conversei com Eduardo Godoi Correa, Superintendente de Produtos e Serviços Financeiros do Banco Cooperativo Sicredi, para que pudéssemos esclarecer as principais questões que envolvem as cooperativas de crédito.
Cliente ou dono?
Uma primeira (e principal) diferença das cooperativas de crédito com relação aos bancos é a relação existente com os clientes e a instituição. Se nos bancos, os usuários dos serviços são clientes, nas cooperativas eles são associados.
Quando você é cliente de um banco você consome os serviços financeiros desse banco, paga por esses serviços e assim é a sua relação.
Já na cooperativa de crédito, o “cliente” é um associado da instituição, faz um aporte de capital (à partir de R$ 20,00 – varia de cooperativa para cooperativa) e ingressa no quadro social, sendo admitido pelo conselho. A partir daí o associado também possui o direito de participar das assembleias e assim participar das decisões relativas aos investimentos futuros que a cooperativa de crédito fará para o seu crescimento.
Como você pode observar, numa cooperativa de crédito o associado se torna também parte da instituição e, portanto, também proprietário dela.
O recebimento de parte dos lucros
Nas empresas em geral, ao final de um período, existe a apuração dos lucros e parte desse lucro é distribuído para os acionistas proporcionalmente à sua participação na empresa.
Na cooperativa de crédito esse processo também ocorre, uma vez que o associado não é simplesmente um cliente – como num banco – mas é também um integrante do quadro social, ou seja, um sócio.
Isso significa que ao final de cada período (ano) a cooperativa apura seus resultados e, em caso de lucro, é definido em assembleia dos associados a forma como este resultado será distribuído, seja creditando esse lucro direto na conta corrente dos associados ou mantendo em reservas da própria cooperativa.
Os serviços financeiros de uma cooperativa de crédito são mais competitivos?
Um dos benefícios do sistema cooperativo é a prática de preços (spreads) mais competitivos em suas operações. Segundo Eduardo, os preços (spreads) praticados pelas cooperativas atualmente podem chegar a uma faixa de 60 a 80% menores que a média de mercado nas demais instituições financeiras.
Não entendeu direito? Vamos lá:
Spread é a diferença entre o custo que uma instituição capta dinheiro e o quanto ela cobra para emprestá-lo. Ter um spread menor significa na prática taxas menores de empréstimo para seus associados do que pagam os clientes de bancos, ou melhor remuneração nos investimentos.
E quanto aos investimentos?
O principal instrumento de captação da cooperativa de crédito se chama RDC, que é o recibo de depósito cooperativo. Em síntese, o RDC é para a cooperativas de crédito o que o CDB é para o banco. E do ponto de vista do investidor, funciona da mesma forma: o investidor aplica no RDC e recebe uma remuneração por isso.
As taxas do RDC para liquidez diária hoje flutuam na faixa de 93 a 94% do CDI, mas podem chegar a 100% dependendo do volume da aplicação. Mas também é possível encontrar RDC nas modalidades prefixadas, onde a remuneração é definida na contratação do produto, da mesma forma que os CDBs dos bancos também.
As cooperativas também disponibilizam aplicações em poupança. No entanto há uma diferença significativa na relação que um investidor associado possui com o investimento em poupança em comparação ao investidor cliente de um banco: o recurso disponível para os associados da cooperativa utilizarem no crédito rural, que tem taxas subsidiadas pelo governo, está diretamente ligado a quantidade total de dinheiro aplicado em poupança na cooperativa. Isso significa que a poupança é um instrumento fundamental para que a cooperativa possa fomentar as atividades dos próprios associados. Portanto, no caso das cooperativas, os associados enxergam a poupança não apenas como um mero investimento, mas como um instrumento crucial para o desenvolvimento da própria cooperativa de crédito e, consequentemente, da sua comunidade.
Algumas cooperativas, como é o caso do Sicredi, também disponibilizam fundos de investimentos aos seus associados, o que permite ampla diversificação dos investimentos, dependendo do perfil de cada associado.
E os riscos de uma cooperativa de crédito?
É claro que benefícios adicionais caminham de mãos dadas com responsabilidade. Sendo assim, o fato de um associado ser também dono de uma cooperativa de crédito o expõe a um determinado risco que um cliente bancário não possui: o risco da cooperativa ter prejuízo ao invés de lucro.
Numa situação extrema, os associados podem inclusive serem chamados a aportar recursos para cobrir prejuízos, depende sempre do que for definido em assembleia.
Para minimizar isso, Eduardo me explicou o seguinte:
O sistema cooperativo se modernizou muito nos últimos anos. No sistema Sicredi, por exemplo, existe um rígido controle de riscos. E quando alguma cooperativa do sistema eventualmente se encontra em dificuldades mais sérias, é feito um trabalho para que essa cooperativa seja incorporada a uma outra cooperativa de crédito da rede, o que é chamado de responsabilidade solidária, evitando assim situações extremas. Estes mecanismos de controle fazem com que o Sicredi nunca tenha deixado de honrar qualquer depósito de um associado ao longo dos seus mais de 100 anos, eventuais prejuízos, são absorvidos pelas reservas financeiras já existentes, que superam os R$ 20 bilhões.
Mas há ainda um outro fator de redução de risco: o FGCOOP (Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito) funciona para as cooperativas de maneira similar ao FGC (fundo garantidor de crédito) para os bancos, onde no caso de insolvência de uma cooperativa, o associado está segurado em até 250 mil reais, mesmo valor garantido pelo FGC.
Participação das cooperativas de crédito no sistema financeiro
Hoje a participação de mercado das cooperativas de crédito no sistema financeiro nacional é de aproximadamente 3%, sendo que as metas são de elevar essa participação para acima de 10% no período entre os anos 2020 e 2025.
Sobre o sistema Sicredi
O Sicredi (que atendeu o Blog de Valor com muita atenção para auxiliar na elaboração desse artigo) é uma instituição financeira cooperativa comprometida com o crescimento dos seus associados e com o desenvolvimento das regiões onde atua. O modelo de gestão valoriza a participação dos 3,4 milhões de associados, os quais exercem um papel de dono do negócio. Com presença nacional, o Sicredi está em 20 estados*, com 1.500 agências, e oferece mais de 300 produtos e serviços financeiros.
Mais informações estão disponíveis em www.sicredi.com.br
*Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins.
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Um grande abraço!
André Bona