*Este artigo foi produzido pelo Gorila com exclusividade para o Blog de Valor.
Vem crescendo o número de mulheres no mercado financeiro, sejam aquelas que atuam neste ambiente ou que decidem empreender. Somente na bolsa brasileira, nos últimos 15 anos, o número de investidoras cresceu quase nove vezes – e hoje representa 23% dos 858 mil CPFs cadastrados, segundos dados da B3 – Brasil, Bolsa, Balcão.
Sem dúvidas o número aumentou, mas ainda é baixo quando olhamos o tamanho da população brasileira – 209 milhões. Uma das razões que podemos destacar é por conta do ambiente econômico ainda ser predominantemente masculino.
“O mercado financeiro tem poucas mulheres e ele é bem maçante, especialmente na fase de vida que se quer engravidar e ter filhos. No mercado em geral cada pessoa é insubstituível na sua área. Então, quando você perde uma pessoa por seis meses isso é uma coisa que penaliza. Muitas mulheres quando começam a chegar nessa fase decidem sair do mercado”, aponta Heloísa Cruz, gestora da Stoxos.
Além disso, muitas mulheres temem investir por não conhecerem os produtos financeiros disponíveis ou às vezes pela cultura familiar. “As mulheres não são ensinadas desde crianças a lidar com dinheiro. Os homens são. Então isso é uma coisa que faz diferença”, pondera Heloísa.
Formada em engenharia, Heloísa desde cedo se apaixonou pelo mercado financeiro.
Após mudar de profissão, passou a oferecer cursos e palestras sobre investimentos e educação financeira. Heloísa avalia que “seria muito legal se todas as mulheres investissem. Mas nos meus cursos, a turma ainda tem só uns 5% de mulheres”.
Empreendedorismo feminino no Brasil
De acordo com dados do Anuário dos Trabalhadores das MPE publicados pelo Sebrae, o número de mulheres empreendedoras no Brasil cresceu 15,4% – saltando de 6,9 milhões para 8 milhões, em dez anos (de 2005 para 2015).
Somente nos dois últimos anos, a proporção de mulheres empreendedoras que são “chefes de domicílio” passou de 38% para 45%. Com esse resultado, houve superação do percentual de mulheres na condição de cônjuge (situação verificada quando a principal renda familiar provém do marido).
Já no caso dos microempreendedores individuais (MEI), o público feminino representa 48% do mercado e atua principalmente em atividades de beleza, moda e alimentação. Porém, ainda há um grande caminho para ampliar a participação das mulheres em empresas ligadas à ciência, tecnologia ou finanças.
O estudo Sebrae mostra ainda que as mulheres decidem empreender movidas principalmente pela necessidade de ter outra fonte de renda ou para adquirir a independência financeira. Além disso, mais de 40% das empreendedoras têm até 34 anos.
Ainda há desigualdade
Um dos fatores que afeta as mulheres na hora de empreender é a educação. Em diversas partes do mundo, aproximadamente 60 milhões de mulheres são privadas do direito ao estudo, e é justamente no ambiente escolar que são desenvolvidas habilidades pessoais que podem ser de extrema importância lá na frente dos negócios.
Apesar das mulheres empreendedoras terem um nível de escolaridade 16% superior ao dos homens, elas continuam ganhando 22% menos que os empresários na mesma posição, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo pesquisa realizada pelo instituto norte-americano GEDI, nos Estados Unidos, por exemplo, apenas 2% das empresas lideradas por mulheres geram mais de US$1 milhão em receitas anuais. Um dos fatores para esse resultado é o investimento desigual por parte de instituições financeiras.
Porém, é interessante destacar que entre 49 países do mundo, o Brasil tem a sétima maior proporção de mulheres entre os “empreendedores iniciais”. Ainda em números globais, cerca de 30% de todos os negócios privados do mundo são operados ou têm como idealizador uma mulher.
Exemplos de atuação feminina
E nessa linha de buscar dar espaço e voz para as mulheres que foi criado o Financial Feminism BR. Liderado por Elaine Fantini, Mariana Ribeiro e Itali Collini, o projeto visa ampliar a participação das mulheres quando o assunto é dinheiro.
Por meio do Vieses Femininos, Elisa Tawil fala sobre investimentos com o público feminino, incluindo toda uma questão histórica de exclusão da mulher dos temas relacionados a finanças e economia. Dá para acompanhar esses conteúdos através do Youtube e Spotify, por exemplo, e saber mais sobre o fortalecimento da Imagem, protagonismo e liderança pessoal.
Quem estiver a fim de aprender a usar o dinheiro e torná-lo mais rentável pode dar uma olhada no o Vamos Planejar as Finanças. A plataforma tem à frente Rejane Tamoto, que é planejadora financeira com a certificação internacional CFP®, além de ser Sócia da FIDUC, empresa de gestão de patrimônio e planejamento financeiro pessoal e familiar e voluntária na Associação Brasileira de Planejadores Financeiros.
Por fim, o Invista como uma garota é um projeto que aproxima mulheres no começo da carreira de diálogos informais e sem tabu sobre dinheiro, investimentos, orçamento pessoal e questões da mulher no mercado de trabalho. Criado por Vic Giroto e Aninha Baraldi, elas encontraram assim uma forma de contribuir ativamente com a causa feminista: A liberdade da mulher passa pela autonomia financeira.
Vale lembrar que as mulheres ainda têm muito o que conquistar. Capacidade e determinação elas já têm, resta criar um ambiente propício para que elas possam empreender.