Olá!
Nesse artigo, eu vou te explicar o que é Value Investing!
Como o assunto hoje é análise fundamentalista, resolvi trazer uma conversa que tive com o Cassiano Leme, fundador da Constância Investimentos, a quem tive a oportunidade de conhecer pessoalmente em visita feita a sua empresa.
Formado em Administração Pública pela FGV e com MBA na Columbia University, Cassiano possui mais de 20 anos de experiência profissional na área de investimentos de longo prazo, private equity e gestão financeira de empresas, tendo atuado como Diretor Financeiro da T4F Entretenimento e da Medial Saúde, gestor de investimentos em private equity no JP Morgan (Nova York e São Paulo) e Darby Investments.
Da conversa que tivemos, o resultado para você entender exatamente o que é o Value Investing é esse que segue abaixo:
Entrevista com Cassiano Leme sobre Value Investing
André Bona: Cassiano, primeiramente obrigado pela conversa que tivemos lá na sede de sua empresa, foi um prazer conhecer o trabalho de vocês e de sua equipe. Hoje o nosso desafio aqui, é explicar de forma simples o que é Value Investing. Então diga, por favor, para nossos leitores: O que é Value Investing?
Cassiano Leme: André, obrigado pela visita, as portas estão sempre abertas. Bom, Value Investing é uma filosofia de investimentos inicialmente desenvolvida por Benjamin Graham e David Dodd, autores do clássico Security Analysis. Este livro foi a primeira grande obra a expor um pensamento sistemático sobre teoria das finanças e avaliação de títulos mobiliários. Graham foi professor da Columbia Business School (Nova York), onde começou a lecionar no final da década de 20. Ele foi também fundador de uma gestora de grande sucesso, na qual se iniciaram profissionais do calibre de Walter Schloss e Warren Buffett.
Não há, evidentemente, uma definição absolutamente precisa do que é value investing, pela abrangência que a filosofia tomou e pelo número de investidores de grande sucesso que empregaram essa filosofia, cada qual de uma forma distinta. Em comum, é possível destacar a crença de que ações têm um ‘valor intrínseco’ de médio prazo que pode divergir muito do valor de mercado, dando surgimento a oportunidades de investimento que exibem uma “margem de segurança”. O value investor em geral procura avaliar seu investimento com base nos benefícios que ele pode auferir como detentor de longo prazo de um instrumento e não necessariamente pela movimentação de curto prazo no preço do título ou ação. Na maior parte das vezes, value investors são orientados para o médio e longo prazos e são céticos quanto à sua própria capacidade de projetar o futuro com muita precisão.
O próprio Graham apresentou uma distinção muito clara entre investir e especular, baseado nos conceitos acima. Para ele, investir é a atividade de empregar capital em instrumentos financeiros com o objetivo de auferir deles um benefício econômico direto – digamos um dividendo, o recebimento de um aluguel ou de uma taxa de juros. Especular é a atividade de empregar capital em instrumentos na expectativa de vendê-los a um terceiro com um lucro. Diferente, não é? Um pouco como comprar algo para usar ou só para vender no futuro. O value investor gosta de comprar ações para usar. Se surgir uma boa oportunidade de venda no futuro, que bom – mas ele não precisa necessariamente contar com a presença de um comprador a um preço mais alto no futuro.
André Bona: Perfeito. Você disse então que podem existir divergências entre o “valor intrínseco” de uma ação e o valor de mercado e que daí surgem boas oportunidades. Então me diga o seguinte: O que são boas oportunidades de compra nesse contexto?
Cassiano Leme: Oportunidades de compra se apresentam de diversas formas e não há uma regra. Ao longo do tempo, investidores se especializaram em diferentes tipos de oportunidades. Há value investors que se especializam em comprar ações muito baratas, às vezes porque tais empresas passaram por dificuldades recentes ou porque há uma percepção exagerada na comunidade de investimentos a respeito de um determinado risco, ou ainda porque há uma escassez de capital no mercado em que ela é negociada. Há outros que se voltam mais para a identificação de empresas que geram retornos sobre capital investido elevados em seus negócios, mesmo que o desconto no momento da compra não seja tão elevado. Há investidores que gostam de identificar um desconto em relação ao valor dos ativos de uma empresa que possa ser de difícil análise. Há até mesmo oportunidades em situações nas quais uma empresa esteja muito endividada, que em geral são muito mais arriscadas mas que podem gerar retornos muito elevados e assim se aproximam de opções.
André Bona: Você mencionou “ações muito baratas”. Mas seriam baratas em relação ao que?
Cassiano Leme: Baratas em relação ao seu valor intrínseco ou valor de longo prazo do ativo. Ou seja, quando o preço mercado do ativo é significativamente inferior ao valor intrínseco, tem-se uma oportunidade de compra. Quanto maior a diferença entre o preço e o valor, nos termos do Graham, maior sua margem de segurança. Evidentemente que o preço de uma ação é observável – existe um mercado em funcionamento a cada dia útil. O valor intrínseco, no entanto, é uma estimativa do investidor. Em que pese esta estimativa poder ser embasada em uma análise criteriosa, utilizando-se dados objetivos, ela não é observável e portanto inclui um nível de subjetividade.
André Bona: A que você atribui o fato de que essa filosofia de investimento tenha ficado tão famosa?
Cassiano Leme: A filosofia tornou-se tão notória pelo sucesso que muitos investidores tiveram ao segui-la. Entre grandes investidores de uma geração um pouco mais velha que seguem (ou seguiram quando vivos) esta metodologia estão Irvin Kahn e Walter Schloss (falecidos), Warren Buffet e Charlie Munger da Berkshire Hathaway, Mario Gabelli (GAMCO), Mason Hawkins (Souhteastern Asset Management), Marty Whitman (Third Avenue). Entre os investidores de uma geração um pouco mais nova estão Seth Klarman (Baupost), David Einhorn (Greenlight Capital), Prem Watsa (Fairfax Financial Holdings) e Bruce Flatt (Brookfield Asset Management).
André Bona: No final das contas, cada value investor visa atribuir um valor intrínseco a uma ação e aproveitar as distorções de mercado com relação a esse valor. Mas há o fator subjetivo que você observou. Qual é o segredo do Value Investor?
Cassiano Leme: Disciplina, paciência e força psicológica.
O traço que mais se destaca para mim entre estes grandes investidores é a disciplina mental e psicológica para analisar e desenvolver suas próprias convicções, pois frequentemente o value investor se encontra na contra-mão de um consenso de opinião. Essa posição pode ser muito desconfortável psicologicamente pelo seu isolamento e empresarialmente, frente a clientes. De forma muito importante, essa disciplina não deve ser confundida com a teimosia ou a obstinação. Todos estes mestres possuem a humildade e a disciplina de reconhecer seus erros e aprender com eles.André Bona: Cassiano, muito obrigado pelas informações prestadas aos investidores leitores de nosso blog!
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Como falei no início, Cassiano é um dos sócios gestores da Constância NP, uma gestora de recursos formada da combinação das gestoras Constância Investimentos, NP Investimentos e Principia Capital Manegement.
Atualmente a Constância NP disponibiliza dois fundos de investimentos aos investidores que compartilhem de sua filosofia de investimentos. Um dos fundos é o NP Fundamento FIA (que em breve será renomeado para Constância Fundamento FIA) e o outro é o Principia Hedge Plus FIC FIM (que em breve será renomeado para Constância Long Short Livre FIC FIM), que é um fundo multimercado.
Investidores que tenham interesse em investir nesses fundos podem fazê-lo por meio do serviço de assessoria de investimentos da Valor Investimentos no link: https://andrebona.com.br/assessoria-de-investimentos-blog/
Um grande abraço,
André Bona
2 Comentários
André BOna, gosto muito desse site cara!
Me tira 1 duvida: consigo fazer automatização de trade com base em dados de análise fundamentalista ? Por exemplo, quando o múltiplo das ações bater valor x, o robô aplica minha grana. Existe? Se não, quais são exatamente as formas de se automatizar as operações? As operações na bolsa com robô, e até mesmo as aplicações de Renda fixa; acho um porre ter de ficar reaplicando pequenas quantias.
queria mandar pra ver se você responde no webinário de investimentos, mas como já tava no site, vai por aqui.
Augusto,
Será que não seria melhor a você fazer a alocação por meio de fundos? Te pouparia todo o trabalho.
Normalmente os algorítimos baseiam-se em operações estatísticas. Mas se você estiver disposto a desenvolver um robô pra isso, vai ser caro, mas pode te atender.
Abs,