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5 Razões pelas quais você vai querer ter seu dinheiro nos EUA caso haja uma grave crise como em 2008

 

Muito se fala, especula, comenta-se, escreve-se, etc, a respeito de o quão “esticado” ou “caro” estaria o mercado americano. Inclusive essa é a justificativa de muitos, o porquê não investir atualmente em títulos ou ações americanas. É normal, a economia é cíclica e de fato essas “chacoalhadas” acontecem de tempos em tempos.

A grande crise de 2008, teve suas raízes no importante setor imobiliário americano, mas o fato de ter atingido o coração do sistema capitalista americano, os bancos, que fez com que ela atingisse proporções ainda maiores. Foram feitos filmes, livros e muitas histórias foram contadas a respeito e isso obviamente que marcou o imaginário das pessoas. A crise foi sim forte e balançou os alicerces da economia mundial a ponto de muitos duvidarem da capacidade de recuperação dos americanos. Entretanto, passados 10 anos a economia americana se recuperou e cresce, os investimentos em renda variável geraram fortes retornos aos investidores, os preços de imóveis já ultrapassaram as máximas pré-crise. Isso tudo só faz aumentar o receio de que uma nova grave crise possa mudar essa realidade.

Não sabemos quando, nem qual será a intensidade de uma nova crise nos EUA, mas ela certamente virá!Agora será mesmo que estar fora do mercado americano vai te proteger de algo? Uma forma de responder ou estimar isso, é analisando o comportamento dos mercados em 2008. Será que a melhor forma de proteger seu patrimônio foi ter todos seus recursos aqui no Brasil? Vejamos:

  • Estar comprado em ações brasileiras não te protegeu.

A bolsa americana atingiu sua máxima pré crise em outubro de 2007, quando o S&P 500 alcançou 1562 pontos; e sua mínima em março de 2009 em cerca de 680 pontos; isso quer dizer uma desvalorização de 56%…é como se o investidor que tivesse investido US$ 10.000 passasse a ter apenas US$ 4.400 após 1 ano e 5 meses do investimento. Sem dúvida muito ruim.

Mas o que aconteceu com o investidor brasileiro que tinha sua carteira de ações e que foi pego de surpresa com a crise americana?

Da máxima a mínima o Ibovespa oscilou praticamente o mesmo que o índice americano, no caso 57% (dos 72.770 pontos para 31.250 pontos), mas em um período ainda mais curto, de maio de 2008 a novembro de 2008. Ou seja, em apenas 6 meses o investidor brasileiro viu seu capital ser reduzido em 57%. Os gráficos abaixo mostram isso (S&P 500 a esquerda e Ibovespa a direita).

E para os que argumentam que a recuperação aqui foi mais rápida, vale lembrar que passados os 10 anos da crise americana as performances falam por si só. Das mínimas atingidas em 2009 para cá o Ibovespa acumula alta de pouco mais de 110%, ao passo que o S&P 500 se valorizou mais de 320% quase 3x mais. Gráfico abaixo tem na linha preta o S&P 500 e na linha verde o Ibovespa.

Em suma o que podemos dizer é que a grave crise americana de 2008 foi igualmente sentida no Brasil e ainda mais intensa (período mais curto) que nos EUA. Ou seja, não houve vantagem em estar posicionado em ações brasileiras e ficar fora do mercado americano. Dito de outra maneira, o investidor não perdeu menos, ou não protegeu mais seu patrimônio simplesmente por não estar no mercado americano. Além disso, a recuperação da economia americana propiciou aos investidores não só recuperação, como também valorização de seu capital em uma escala muito maior.

 

  • Durante a crise o Real se desvalorizou fortemente…o brasileiro ficou pobre internacionalmente.

Não obstante, ao concentrar seus investimentos no Brasil, o investidor viu seu poder de compra internacional ser dilacerado em poucos meses. Apesar de parecer contraditório, durante a crise a moeda americana se valorizou contra diversas moedas, e uma delas foi o Real. Entre agosto de 2008 e dezembro de 2008 o dólar saltou de R$ 1,55 para R$ 2,50 uma alta de mais de 60% em apenas 5 meses! O gráfico abaixo mostra esse movimento.

Ou seja, o consumidor brasileiro ficou mais pobre internacionalmente! Pense você o impacto disso na hora de viajar para disney, ou comprar um carro importado, uma guitarra importada, ou qualquer item não nacional?! Trazendo para realidade atual, é como se o dólar saltasse dos atuais R$ 4,00 para R$ 6,70 em fevereiro de 2019…já imaginou isso?

Isso mostra o quão desprotegido o investidor fica ao concentrar recursos somente aqui no Brasil! Se você investigar as demais crises, vai ver que esse movimento é comum, logo, não estar nos EUA, ou não ter recursos investidos lá só prejudicou o investidor. Dito de outra maneira, o investidor que possuía US$ 10.000,00 que representavam cerca de R$ 15.500,00 em agosto de 2008, viu esse montante saltar para algo próximo a R$ 25.000,00.

 

  • Diversificação e proteção em fundos multimercados…será mesmo?

O investidor que não quer tomar as decisões de investimento opta, muitas vezes, pela terceirização da gestão de seus recursos para um gestor profissional com a perspectiva de que este terá melhores condições e capacitação para gestão. De fato os gestores tem essa capacidade, mas em um cenário de estresse global e crise que afeta o mercado como um todo, muito poucos são aqueles que conseguem ter uma performance destacada e de fato proteger o patrimônio do cliente. Não obstante, como muitos deles possuem uma atuação local, os mesmos tem um menor escopo de atuação.

O BTG Pactual IFMM é um índice que busca medir o desempenho da indústria de fundos multimercados brasileira. Os fundos multimercados como o nome já diz, são aqueles que tem a liberdade de investir em diferentes mercados, como juros, ações e câmbio. O gráfico abaixo mostra que durante o auge da crise, em especial entre setembro e o final de outubro de 2008, os fundos multimercados apresentaram queda de aproximadamente 2,3%.

A questão aqui não é o valor em si, mas a lógica de que mesmo bem diversificado com uma carteira de fundos, o investidor percebeu perdas reais, além do custo de oportunidade de investir em outras opções que o trouxessem maior retorno. Logo a concentração geográfica acabou com qualquer benefício de diversificação.

 

  • Na hora do desespero é melhor que a porta de saída seja grande.

Pense numa situação de paúra e pânico…algo como um incêndio num shopping por exemplo. As pessoas tendem a reagir impulsivamente, de forma rápida e seguindo um comportamento de manada tentando sair, todas ao mesmo tempo, desse shopping. Semelhantemente, nos mercados, sejam eles de juros, ações ou câmbio, eventos de estresse causam as mesmas consequências. Muitas pessoas querendo se desfazer de um determinado ativo jogam o preço desse para baixo, mas também geram impedimentos para que o investidor consiga se desfazer de sua posição. Por isso a preferência dos grandes investidores pelos maiores mercados, os mais líquidos. Aqueles onde ele consegue comprar ou vender suas posições de forma rápida e acessível.

Nesse sentido, para dar uma noção de grandeza para o leitor, são negociados US$ 123 bilhões por dia na NYSE, a principal bolsa americana; no Brasil, o volume médio de negociação na Bovespa é de apenas US$ 3 bilhões por dia. Ou seja, o invstidor que queira se desfazer de suas posições no Brasil encontrará uma “porta” que é 40x menor!

Uma porta maior confere ao invetidor maior segurança, que é exatamente o que você busca num momento de crise ou paúra de mercado.

  • Para se proteger é preciso ferramentas.

Por fim, mas não menos importante, o mercado americano ao ser o maior do mundo propicia uma gama diversificada de investimentos. É um número muito maior de alternativas de diversificação que fazem uma diferença enorme.

Por exemplo, geralmente, o ouro é visto como um porto seguro em meio as incertezas de uma grave crise, um ativo de refúgio seguro onde o seu dinheiro pode ser protegido. Isso porque o ouro é um ativo físico que pode ser comprado e vendido em todo o mundo. De fato, em 2008, do início de novembro ao fim de março, quando o mercado americano atingia suas mínimas, o ouro se valorizou 30% em dólar no mercado americano. Através do mercado americano você pode comprar por exemplo o iShares Gold Trust (IAU) que é um ETF que oferece exposição ao ouro a custo bastante acessível de apenas 0,2% em taxas de administração, valor esse significativamente menor que os fundos, por exemplo.

Outra alternativa são os bonds (títulos de dívida) do governo americano ou ainda de empresas de elevada qualidade de crédito. De acordo com a MFS Investments, os bônus globais retornaram 12% em 2008. Os títulos também se saíram bem durante a crise tecnológica, registrando retornos acima de 8% em 2000, 2001 e 2002. Isso porque a probabilidade de inadimplência americana é considerada muito baixa ou zero. Logo foi possível não só proteger, mas também ganhar dinheiro em mio a crise. Você tem por exemplo o iShares iBoxx Investment Grade Corporate ETF (LQD) um dos maiores ETF’s da indústria com mais de US$ 12 bilhões sob gestão e que te oferece ao custo de 0,15% ao ano, uma exposição a mais de 1900 bonds de empresas investmend grade como GE, Goldman Sachs, CVS, Apple, entre outras. Existem os ETF que investem em títulos do governo americano como o…[…]

 

Leia o texto na íntegra no blog BUGG – Análises Econômicas e de Investimentos, de William Castro Alves.

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Economista pela UFRGS, iniciou sua carreira em 2004 na Solidus Corretora, tendo passado pelo Koliver Merchant Bank e Banco Alfa. Atuou como analista de Investimento na XP e responsável pelas gestão das Carteiras Recomendadas.

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