O rompimento de mais uma barragem da mineradora Vale na cidade de Brumadinho, em Minas Gerais, na última sexta-feira (25), ganhou as manchetes nacionais e internacionais nos últimos dias. A segunda falha em uma barragem de rejeitos no Brasil em pouco mais de três anos trouxe, além de uma imensurável tragédia no aspecto humana e ambiental, muitas dúvidas em relação ao setor de mineração no país e a certeza de que uma mudança é urgentemente necessária para garantir a segurança da população e dos próprios funcionários do segmento.
Do ponto de vista de mercado, apesar de não haver ainda informações precisas sobre as causas do rompimento desta nova barragem, uma questão parece ser unanimidade entre os analistas do mercado brasileiro: a tragédia que acometeu Brumadinho e todo o país foi recebida com surpresa após o episódio da Samarco, em Mariana, no ano de 2015.
A fim de compreender mais profundamente a visão do mercado financeiro sobre esta tragédia e conhecer as principais conseqüências e possíveis mudanças que virão – no âmbito regulatório, administrativo e de produção – a partir do triste episódio de Brumadinho em diversos aspectos, o Blog de Valor consultou diversos analistas do mercado para produzir o Dossiê Vale: Entenda a tragédia em Brumadinho (MG) e suas conseqüências.
Se você ainda não está informado sobre os principais acontecimentos envolvendo o rompimento de mais uma barragem em Minas Gerais e as implicações desta tragédia no âmbito do mercado financeiro e da indústria de mineração, confira a seguir nosso breve Dossiê Vale: Entenda a tragédia em Brumadinho (MG) e suas conseqüências, produzido com exclusividade pelo Blog de Valor.
Este dossiê Vale tem como principal objetivo ajudar você a compreender algumas das principais questões acerca da tragédia em Brumadinho e as medidas já adotadas pela Vale desde a última sexta-feira (25), além de auxiliar você, investidor, a identificar o melhor caminho a seguir em relação aos seus investimentos a partir das análises mais recentes de alguns os principais analistas do mercado.
Sob uma ótica diferente
Antes de falar sobre os impactos da tragédia em Brumadinho (MG), é preciso ressaltar que, neste dossiê Vale, abordaremos apenas os impactos tangentes ao mercado financeiro, ao segmento de mineração em geral e aos investidores.
O Blog de Valor lamenta profundamente as vítimas do rompimento da barragem da Vale e presta solidariedade a todos os impactados com este evento. No entanto, entendemos ser importante apresentar ao leitor algumas das principais questões relacionadas a esta tragédia e suas implicações, fazendo um levantamento destas consequências sob uma ótica diferente.
Acompanhe este levantamento a partir de agora.
Os impactos de Brumadinho
Para compreender os impactos do rompimento da barragem em Brumadinho para a Vale e para o setor de mineração, é preciso mensurar o tamanho deste empreendimento. A barragem 1 rompida faz parte da mina Feijão – menor, em escala, em comparação com a barragem de Samarco, rompida em 2015.
De acordo com analistas do mercado, o local da mina impactada era responsável por menos de 2% da produção total da Vale – resultando, na prática, em um impacto econômico bastante baixo para a companhia. Devido à grande perda de vidas humanas, por outro lado, o impacto à empresa tende a ser muito maior em sua imagem.
As operações na região foram suspensas desde o rompimento da barragem, no dia 25 de janeiro.
Raio-x: Barragem 1 Mina do Feijão
A barragem 1 da Mina do Feijão foi construída no ano de 1976 pela Ferteco Mineração – que foi adquirida pela Vale no ano de 2001. Segundo informações da Vale, a barragem – que tinha 86 metros de altura, 720 metros de comprimento e cerca de 11,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos – estava inativa.
Apesar da inatividade da barragem, ainda de acordo com a Vale, haviam diversos certificados que atestavam a estabilidade da barragem, que era submetida quinzenalmente a inspeções – reportadas à Agência Nacional de Mineração. Por conta destas informações cedidas pela companhia, analistas do mercado salientam que é ainda mais difícil entender o que poderia ter dado errado para que houvesse o rompimento da barragem.
Brumadinho x Mariana
Uma das principais dúvidas de investidores e da população em geral se refere a eventuais semelhanças e diferenças entre Brumadinho e a tragédia de Mariana, em 2015 – quando uma barragem da Samarco se rompeu.
Neste comparativo, analistas do mercado ressaltam que, enquanto o impacto ambiental de Brumadinho tende a ser materialmente menor se comparado à tragédia da Samarco (empresa na qual a Vale têm participação de 50%) – que resultou no vazamento de 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos, ante cerca de 12 milhões de metros cúbicos de Brumadinho, a tragédia mais recente em Minas Gerais acaba sendo muito maior devido ao impacto humano – que ainda não pode ser mensurado completamente devido à presença de muitos desaparecidos.
Até a noite de terça-feira (29), o Corpo de Bombeiro da região havia contabilizado 84 mortes e 276 desaparecidos na região. As buscas devem continuar nos próximos dias. No desastre de Mariana, foram 19 vítimas fatais.
A indústria e os mercados de minério de ferro
Considerando o fato de este ser o segundo incidente de rompimento de barragem em pouco mais de três anos, os analistas do mercado acreditam que a pressão da sociedade após a tragédia de Brumadinho deve avançar a níveis jamais vistos – com a população exigindo mudanças que garantam operações mais seguras para a indústria e para a própria população.
A expectativa é por um aperto na regulamentação para o setor de minério de ferro no país – impactando não apenas operações futuras, mas também projetos e operações já em andamento. A adoção de tecnologias de processamento a seco – que não dependem de barragens de rejeitos – também deve ganhar ainda mais atenção a partir de agora.
No âmbito macro, especialistas do mercado consideram que o acidente em Brumadinho possa implicar em um aperto no mercado de minério de ferro – já que o Brasil é um dos principais produtores mundiais do minério. A justificativa é que possíveis procedimentos de segurança ou mudanças regulatórias tendem a causar alterações na indústria como um todo graças à forte presença do Brasil neste segmento.
Dividendos em 2019
Na última segunda-feira (28), a Vale anunciou a suspensão do pagamento de dividendos e Juros Sobre Capital Próprio (JCP) em 2019. O bônus aos executivos da companhia também foram suspensos.
Vale destacar que a Vale vinha entregando dados sólidos trimestrais e bom fluxo de caixa livre. Para este ano, as projeções de analistas do mercado apontavam para um pagamento de dividendos na ordem de 10% – como era a expectativa dos analistas do banco de investimentos BTG Pactual, por exemplo.
Outras medidas adotadas pela Vale
Além da suspensão de proventos aos acionistas neste ano e do pagamento de bônus a executivos, a Vale anunciou uma série de outras medidas – adotadas após a tragédia em Brumadinho.
Na última segunda-feira (28), a Vale também informou que doará R$ 100 mil às famílias das vítimas da tragédia em Brumadinho. O valor será doado independentemente de qualquer outra indenização que, na visão da própria empresa, deverá ser muito maior que o valor a ser repassado voluntariamente para as famílias de cada vítima do desastre.
A mineradora também se comprometeu a doar R$ 80 milhões, em caráter emergencial, ao município de Brumadinho – palco da tragédia da última sexta-feira (25).
A Vale anunciou ainda, na última terça-feira (29), a retirada de rejeitos de barragens semelhantes às de Mariana e Brumadinho e a revitalização destas regiões. O processo, conhecido como descomissionamento, será realizado em 10 barragens que possuem alteamento a montante – método que não deverá mais ser utilizado pela Vale.
Em nota, a Vale afirmou que serão necessários três anos e R$ 5 bilhões para “descaracterizar as estruturas como barragens de rejeitos para reintegrá-las ao meio ambiente”.
Ações da Vale: compra ou venda?
Logo após a nova tragédia em Minhas Gerais, os ADRs da Vale negociados no mercado dos Estados Unidos recuaram 8% e a expectativa era de forte queda nas ações da Vale no mercado brasileiro na sessão de segunda-feira (28) – projeção que se confirmou após um tombo de mais de 24% nos papéis da companhia na bolsa brasileira, fazendo a Vale perder mais de R$ 70 bilhões em valor de mercado em apenas um dia.
As inúmeras perguntas ainda sem respostas em relação ao desastre em Brumadinho, somadas às decisões judiciais que bloquearam cerca de metade do valor disponível no caixa da empresa até o dia 28 de janeiro e a forte perda no valor as ações da Vale preocupavam o mercado. Diante deste cenário, a maior parte dos investidores viu-se em uma situação delicada: afinal, o que fazer com as ações da Vale?
Após alguns momentos para digerir este trágico acontecimento, os analistas do mercado se posicionaram em relação a esta questão – que causava grande incerteza em muitos investidores.
BTG Pactual: classificação de compra
Nesta quarta-feira (30), o banco de investimentos BTG Pactual manteve a classificação de compra para as ações da Vale (VALE3). Em relatório enviado a clientes, os analistas Leonardo Correa e Gerard Roure afirmaram que, “em meio a toda tristeza e esforços contínuos de resgate em Brumadinho, a administração da Vale saiu (rapidamente) com um plano sensato para mitigar os riscos e garantir a estabilidade financeira à frente”.
Os analistas disseram que o “cenário parece melhor do que o esperado” para a empresa, embora haja ainda diversos riscos no horizonte. Após a revisão dos números atuais e das estimativas para os próximos anos diante dos eventos recentes em Brumadinho, a classificação do BTG Pactual para as ações da Vale se manteve de “compra”.
Em relação ao ADR na Vale, negociado nos Estados Unidos, o banco de investimentos optou por reduzir o preço-alvo para 12 meses de US$ 20,00 para US$ 14,00 depois do rompimento da barragem em Minas Gerais.
Clique aqui e confira a primeira análise do BTG Pactual sobre as ações da Vale após a tragédia de Brumadinho. A análise do banco de investimentos foi divulgada no dia 27 de janeiro.
Eleven Financial: classificação de compra
Em relatório publicado na última terça-feira (29), a casa de análises independente Eleven Financial apresentou uma nova avaliação em relação às ações da Vale, “considerando um endurecimento material nas punições, indenizações e obrigações da companhia, comparativamente ao imputado à Samarco após o evento em Mariana, no segundo semestre de 2015”. Considerando o novo cenário pós-Brumadinho, a Eleven Financial também optou por manter a classificação de compra para os papéis da Vale (VALE3).
A casa de análises destacou em seu relatório, assinado pelo estrategista-chefe da Eleven, Adeodato Netto, e pelo analista Raphael Figueredo, a suspensão do pagamento de proventos e o pagamento de bônus aos executivos – que “foram bem vistos” pela equipe da Eleven Financial. Os riscos de operações e eventos à frente – que devem incluir um trabalho intenso da Vale para aumentar a participação do processamento a seco em suas operações – também foram ponderados.
“Aplicando todas as premissas de performance e risco para a companhia e levando em consideração a combinação dos fatores que entendemos reunir a maior probabilidade de materialização com os dados que temos à frente, reiteramos a recomendação de compra de VALE3, com preço-alvo ajustado para R$ 59,00”, informou a Eleven Financial.
Clique aqui e acesse o relatório completo da casa de análises Eleven Financial sobre as ações da Vale.
Na tarde de quarta-feira (30), os investidores reagiam positivamente aos anúncios de desativação das barragens semelhantes às de Brumadinho e Samarco pela Vale e os papéis da mineradora subiam no mercado brasileiro. No início da tarde, as ações da Vale apresentavam valorização de quase 9% na bolsa brasileira B3, sendo negociadas a R$ 46,55.
Tragédias, mineração e o dilema moral
Neste momento, muitos investidores podem se deparar com um dilema moral de tomar ou não alguma decisão de investimento em relação às ações da Vale – considerando, principalmente, o momento de grande comoção e emoção devido às perdas humanas na tragédia em Brumadinho.
E isso é bastante compreensível, uma vez que todos nós nos sensibilizamos com as vítimas e com todas as famílias afetadas por este desastre, além da questão dos impactos no meio ambiente – sendo perfeitamente normal termos alguma dificuldade em tomar essa decisão de investimento em um contexto tão delicado.
Nocividade ao meio ambiente
É preciso ponderar, no entanto, que algumas pessoas acabam optando por não investir na Vale ou em determinadas empresas por não desejarem ser sócios de companhias que poderiam ser nocivas à sociedade e ao meio ambiente – assim como existem investidores que decidem não aportar seu dinheiro em empresas de setores cujas atuações acabam por trazer algum tipo de mal à saúde, como empresas de bebidas alcoólicas, por exemplo. E, no caso da Vale, não foi difícil encontrar, nos últimos dias, pessoas que apontaram a companhia como uma empresa nociva ao meio ambiente na prática da sua atividade operacional ao longo do tempo.
Porém, as pessoas devem ter em mente que qualquer atividade que envolva a exploração de um recurso natural – como é o caso da exploração do minério – causa um determinado impacto ou modificações profundas no meio ambiente. Em meio a este impacto, no entanto, surge a possibilidade de extrair de uma determinada região uma matéria-prima que permite a produção de uma série de outros itens que facilitam nossas vidas ao longo do tempo.
Se você está lendo este artigo do seu smartphone ou computador, por exemplo, é importante ter conhecimento de que uma pequena parte do minério explorado no Brasil ou em outras partes do mundo foi empregada na fabricação deste bem – como ocorre em diversas outras situações do nosso dia a dia, seja no trabalho ou no ambiente privado. Temos a presença de minério nos meios de transporte, nos itens eletrônicos que utilizamos no cotidiano, nos utensílios que fazem parte da nossa rotina, nas máquinas agrícolas que produzem alimentação para a população mundial e até mesmo em nossas casas – uma vez que o minério de ferro é uma matéria-prima fundamental no âmbito da construção civil.
Por isso, é importante que você reflita que a atividade de mineração traz consigo um impacto no meio ambiente independente da ocorrência de desastres – como o caso de Brumadinho. Este impacto, no entanto, traz uma série de benefícios para a vida da população mundial. O dilema moral, neste caso, que estaria contido no fato de investir ou não em uma empresa que explora o meio ambiente acaba não fazendo sentido – já que é esta atividade que nos permite, neste momento, ter uma qualidade de vida superior, criando um ambiente de conveniências que nos permite salvar vidas, alimentar pessoas e enfrentar menos dificuldades no dia a dia.
As famílias que foram impactadas pelas tragédias de Brumadinho e Mariana ou por outros desastres relacionados, de alguma maneira, às atividades de extração – como a mineração, que traz desenvolvimento, empregos, renda, prosperidade e melhorias na qualidade de vida mundial, devem não apenas receber nosso sentimento de pesar, mas, principalmente, nosso sentimento de gratidão por entregarem, de fato, suas vidas em função destas melhores condições de vida para a população.
A decisão de investimento
Antes de tomar sua decisão de investimento em relação à Vale ou a qualquer outra empresa em situações de desastre, portanto, é essencial que você faça essa distinção entre o que é, de fato, nocivo e aquilo que é natural em termos de extração – dentro de um grau tolerável de nocividade, considerando os benefícios de cada atividade.
Obviamente, ninguém precisa compactuar com investimentos em uma empresa que faça a exploração de recursos naturais que, eventualmente, possa ser feita de maneira descuidada. No caso específico da Vale, é importante salientar, entretanto, que, por mais que a empresa possa ter sido a causadora do desastre, ninguém se beneficiou desta tragédia: foram afetados os funcionários da empresa, as pessoas da comunidade e também a própria Vale. E isso deve estar bastante claro para qualquer investidor durante o processo de decisão de investimento.
Apenas não podemos nos esquecer de exigir, sempre que necessário, enquanto cidadão e investidor, um maior rigor na legislação, na regulamentação e melhorias constantes nos processos de extração – sobretudo em relação à segurança, para que tragédias como a de Brumadinho não se repitam.
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