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A indicação de Joaquim Levy para a presidência do BNDES tem o intuito de passar um recado bastante claro: a maior importância do mercado de capitais no financiamento de projetos de infraestrutura.

Alguns setores já são facilmente acessados por investidores.  Títulos de dívida atrelados a projetos rodoviários e de construção de linhas de transmissão contam com ampla demanda dada a sua remuneração, semelhante à renda fixa, e sólida base jurídica.

Apesar dos instrumentos oferecidos pelo mercado de capitais serem mais flexíveis para as empresas do que o financiamento contratado diretamente com o BNDES, determinadas áreas ainda encontram resistências quando seguem para o processo de captação de recursos junto aos investidores.

Esse é o caso de projetos cujos riscos não são bem conhecidos, como os ligados à saneamento básico e parcerias público-privadas.  Para coloca-los na rua, é preciso contar com a ajuda de gente de peso.  Agências multilaterais, como o Banco Mundial, entram como investidores-âncora para atrair fundos de pensão, seguradoras e outros investidores institucionais estrangeiros.

O que é um título verde?

Um título verde, conhecido como greenbond no mercado internacional, tem por objetivo financiar projetos sustentáveis.

Os primeiros títulos verdes datam de 2007, quando o Banco Mundial e o Banco Europeu de Investimento começaram a testar o mercado.  Desde então, já foram emitidos em 25 moedas diferentes.

De acordo com os dados do Climate Bonds Initiative (CBI), órgão internacional responsável pela promoção dos mercados de títulos verdes e climáticos, ao redor do mundo, governos e empresas captaram:

  • O equivalente a US$ 81 bilhões apenas no ano de 2016;
  • Aproximadamente US$ 160 bilhões, um ano depois (2017).

Iniciativas importantes foram tomadas ao longo dos anos para induzir o seu desenvolvimento.  A International Capital Market Association (ICMA), associação que conta com a participação de 50 instituições financeiras de porte, trabalhou em um conjunto de normas para os títulos verdes, conhecidos como Green Bond Principles.

O intuito é definir regras para a administração dos recursos captados e o tipo de informação a ser fornecida ao investidor. 

Quem emite o título precisa se comprometer em gerar relatórios com as suas notas para os principais indicadores de sustentabilidade, alémdo andamento dos projetos.

Certificadoras, por sua vez, já estão no mercado para atestar a qualidade dos títulos no que tange a aderência às normas.O objetivo é reduzir o custo para os investidores que não contam com equipes próprias para avaliar esse tipo de papel.

Ao gerar mais interesse por parte de uma base maior de investidores, os emissores se tornam potenciais candidatos para compor os principais índices de bolsa de valores.

Outros fatores influenciam esse ambiente de negócios.  Em outubro de 2015, 160 países assinaram um documento se comprometendo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Os ODS substituem os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio que valeram até o ano de 2015.  O investimento estimado para alcança-los é da ordem de US$ 2,4 trilhões.   Esse é o tamanho do mercado a ser atendido pelos greenbonds.

O que é ESG?

ESG é a sigla em inglês para os 3 elementos que mensuram a sustentabilidade e o impacto social de um projeto:

  • “E” representa o meio ambiente;
  • “S” representa a sociedade;
  • “G” é para a governança.

Uma entidade que emite um título de características ESG consegue diversificar a sua base de investidores e acessar um público bastante exigente.  Na Europa, existem fundos cujo mandato só permite esse tipo de investimento.

Para as empresas que pretendem buscar financiamento para projetos de energia renovável, eficiência energética ou reuso de água, por exemplo, existe esse público bastante fiel que não se desfaz de seus investimentos frente à volatilidade.

Esses investidores sabem que, se sacarem os seus recursos, não encontrarão outros papéis de características semelhantes para aplicar:

“A base de investidores subjacente para os títulos verdes provavelmente é mais aderente.  Em períodos de alta volatilidade, é de se esperar desempenho superior dos títulos verdes.”

 

Anthony Barklam,

corresponsável por mercados de dívida do Mitsubishi UFJ Financial Group

 

Como isso nos afeta?

Em 2015, O Brasil foi um dos aproximadamente 190 países que assinaram o Acordo de Paris para a redução das mudanças climáticas.

Ao país, coube a meta de investir US$ 152 bilhões até 2030 para:

  • Recuperar 12 milhões de hectares de florestas;
  • Recuperar 15 milhões de pastagens degradadas;
  • Aumentar de 10% para 23% a participação de energia de fontes renováveis (eólica, solar e biomassa) na matriz energética.

Os títulos verdespoderiameliminar décadas de atraso, já partindo para o desenvolvimento de projetos de baixo carbono.Os maiores beneficiados seriam os setores de energias renováveis, esgoto e saneamento e sistemas de transporte público urbano.

Desde 2016, as principais instituições financeiras do país, responsáveis na época por $ 62 trilhões de ativos sob gestão, adotam as melhores práticas em suas operações.   Os resultados não demoraram a aparecer.

A primeira emissão de um título verde brasileiro foi um CRA da Suzano Papel e Celulose, no valor total de R$1 bilhão.  Trata-se de um título isento de IR (abordado em um outro artigo).  Esse papel teve demanda três vezes maior que a oferta.

A operação saiu em um formato que pode ser adotado por outras empresas.  A FSC Brasil, ONG que certifica o manejo florestal,forneceu o selo FSC,atestando que a sua cadeia de valor adota critérios sociais, ambientais e econômicos.

Ainda em 2017, foram lançados o Código Brasileiro de Governança Corporativa e o Guia de Emissão de Títulos Verdes no Brasil.  Esses projetos nasceram da constatação de que abraçar a causa do desenvolvimento sustentável faz os negócios girar.

Uma pesquisa conduzida pela consultoria PwC, dois anos antes, concluiu que:

  • 78% dos entrevistados estavam mais propensos a consumir bens e serviços de uma empresa que tivesse aderido aos ODS,
  • Esse percentual chega à 90% na América Latina.

O que vem pela frente?

Como não há uma expectativa de alta expressiva da Selic para os próximos anos, algumas opções podem sair no mercado em breve:

  • Certificados de Recebíveis de Saneamento: títulos emitidos para o financiamento de projetos de tratamento de água e esgoto;
  • Créditos de Descarbonização: antecipação de recursos para financiar a produção de biocombustíveis.

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Adriano Freitas

Investidor e trader, Adriano Freitas atua no mercado financeiro há mais de seis anos. Formado em Ciência da Computação e Pós graduado em Arquitetura e Engenharia de Software, apaixonou-se pelo mercado financeiro quando viu o que a Inteligência Artificial poderia fazer neste ramo.

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Este artigo foi produzido por um autor parceiro e/ou convidado com a finalidade de compartilhar suas opiniões sobre temas diversos e contribuir com o site.

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