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Efeito manada, ações e você: como ser “Maria vai com as outras” é péssimo para seus investimentos

* Por Thiago Nigro

Eu sou o Thiago Nigro, autor do blog O Primo Rico, e vasculhando o mercado financeiro, eu sempre tive muitas indagações a respeito do que vou dizer agora. Então pense consigo mesmo e responda mentalmente: Aonde você opta por comer no fim de semana? Por acaso na sua infância você usou algum estilo de roupa, ou penteado que não te agradavam, mas que seus amigos aprovavam? Você deve saber mais de um idioma, mas em algum momento da sua vida você demonstrou real interesse por aprendê-lo, ou o fez apenas por ser uma “vantagem competitiva”.

É, o famoso efeito manada sempre esteve muito presente nas nossas vidas. Muitas das decisões que tomamos são motivadas pela vontade de nos sentirmos inclusos em nossos grupos sociais, ou simplesmente como um simplificador de tomada de decisão. Por exemplo, você não diria que é atestado de qualidade de um restaurante, quando vemos uma extensa fila em sua porta? Nosso pensamento imediato é “Bom se tanta gente gosta e está disposta a enfrentar essa fila, é por que esse lugar deve ser bom”.

Agora transfira essa mesma lógica para o mercado de investimentos. Vou começar com um exemplo, digamos que da noite para o dia, as ações do Itau dispararam e diversos compradores entraram na jogada. Todo esse movimento está sendo impulsionado por qualquer notícia positiva referente ao banco e por isso várias pessoas acreditam que suas ações agora valem muito mais, pois o banco terá mais lucro, dará mais retorno, etc. No entanto, quantas dessas pessoas realmente seguiram a notícia a fundo, para saber o real impacto no banco Itau? Quantas chegaram a precificar essa notícia, ou seja, deram um valor limite para o quanto ela agrega ao banco?

1 – A massa é ignorante

É isso mesmo, caro leitor, a massa não sabe o que faz. Ela age por impulso. Ela vê um objeto brilhante e logo lhe concede valor. Ela vê uma fruta de bela coloração e imagina que ela é saborosa. Ela… vê uma fila de um restaurante dobrar uma esquina e assume que o lugar é bom.

É importante notar como o efeito manada só existe por causa do nosso habito de poupar energia. Dada à natureza humana, nós temos o costume de gastar menos tempo ponderando sobre coisas que damos como garantidas. Você não questiona se os vegetais realmente vão te fazer bem, você apenas os come por que quer ter um estilo de vida mais saudável. Não perdemos tempo com decisões que pouco afetarão nossas vidas, afinal de contas é um desperdício de atenção e energia que não resultará em qualquer vantagem para nós.

Falando um pouco de biologia, nossa espécie só chegou onde está, por que aprendemos que devemos realizar certas atividades com o menor dispêndio de energia possível. Todo o processo de agricultura é um reflexo disso, aonde usamos tração animal para arar nossa terra. Nosso corpo tem uma incrível capacidade de alcançar uma boa velocidade, mas optamos por nos deslocar com carros ou ônibus, diminuindo o gasto energético. Nosso processo decisivo não é diferente disso.

Não tome o efeito manada, ou esse impulso que temos, como algo 100% negativo. Na nossa evolução ele nos ajudou a distinguir animais peçonhentos de criaturas inofensivas, plantas venenosas de comestíveis, ou amigos de inimigos. Mas nem tudo na nossa vida moderna é sobrevivência. Esses mesmos impulsos agem contra nós, uma vez que nossas necessidades primitivas são muito distintas das modernas. Temos esse fascínio por açúcares e doces, pois estes são boas fontes de energia, mas eram extremamente escassos na natureza. Hoje eles podem ser consumidos em excesso, causando males na nossa saúde como obesidade e diabetes.

2 – O discernimento: encontrando indícios do movimento por impulso e remando contra a maré

Bom, já vimos uma coisa muito importante. Esse impulso, chamado de efeito manada,  que sentimos por seguir o movimento dos outros já nos serviu muito no passado e nem sempre é uma coisa ruim. Mas e quando ele É muito ruim?

A coisa mais comum em um grupo de amigos é a ausência da pluralidade. Não é raro encontrarmos um grupo de “Punks”, roqueiros, “clubers”, patricinhas e mauricinhos, todos andando coesos e unidos. É raro vermos uma segmentação clara dentro de um único grupo. Isso é um processo bom para o indivíduo, mas pode ser um pouco danoso para o coletivo. A formação de grupos é algo natural ao ser humano, mas não é raro vermos que ele pode se fechar dentro de si mesmo. Os “Punks” tem sua ideologia diferente e singular e uma vez que seu grupo é fechado, seus membros perdem a capacidade de se conectar com outros métodos e estilos de vida. Isso acaba inibindo a mudança e muitas pessoas podem perder certas oportunidades em situações como essas.

O efeito manada pode ser (e é) diretamente aplicado no mercado de investimentos.

Uma pessoa que está muito condicionada a uma análise mais gráfica de seus ativos, pode se tornar alheio aos movimentos do mundo e perder oportunidades importantes de entrar ou sair de algum negócio. Ao mesmo tempo, uma pessoa que viu o reflexo de uma notícia positiva referente a uma negociação específica, não notou que o ativo em questão já estava em uma situação de alta.

Ou seja, o movimento foi observado e as variáveis não foram devidamente analisadas. A manada disse e a pessoa seguiu. O efeito manada prevaleceu!

“Cara, olhe como itau está subindo, só pode estar acontecendo alguma coisa muito importante! Vou entrar nesse trade”. – efeito manada!

“Você viu a variação do petróleo hoje? Com certeza Petrobrás vai detonar, vou colocar todos os meus clientes nesse trade”. – efeito manada!

São frases como essas que nos dão fortes indícios de que estamos sendo Maria vai com as outras e sofrendo o efeito manada. E existe um bom potencial de estarmos indo em direção ao penhasco e nem sabemos disso.

Se você quiser montar a sua carteira de investimentos de forma consistente, você deve começar pelo lugar correto. O André Bona gravou um belíssimo vídeo, que você pode encontrar aqui, te ensinando a forma ideal de montar seu portfolio de investimentos.

3 – Andando com suas próprias pernas e tomando suas próprias decisões

“Poxa, então a situação é ruim mesmo. Eu vou sofrer um forte impulso de entrar ou sair de um negócio e as pessoas ao meu redor estão no mesmo barco. Não quero participar do efeito manada, mas não sei o que fazer!!!”

Não se desespere! Ir contra a correnteza não é tão difícil quanto parece. A correnteza puxa e você vai embora fácil, a não ser que esteja bem equipado. Afinal de contas o objetivo não é que você tenha um barquinho para subir o rio, mas sim uma robusta embarcação, que resistirá aos maiores trancos.

O primeiro passo para deixar de lado o movimento de manada e tomar decisões conscientes nos seus investimentos é utilizar um bom tempo com estudos e muita dedicação para buscar entender mais afundo um ou outro ativo bem especifico do mercado. Se você quer começar a investir em bolsa, mas não sabe como ou por onde começar, inicie com uma pesquisa de campo.

Quer saber mais sobre Itau? Busque algumas notícias importantes. Entre em portais sobre o assunto e assimile algumas palavras chave. Muito do que afeta esse ativo, pode afetar diversos outros. Se você souber da relação de Itau com suas variáveis, você poderá se aventurar em mais alguns bancos futuramente.

Busque estudar um pouco mais sobre gráficos. É importante termos o cenário em mente, mas mais importante ainda é sabermos se o momento do ativo é propicio ou não. É muito comum vermos uma alta gigantesca representar uma perda significativa para diversas pessoas, só por que elas resolveram entrar em algum ativo que acabou caindo, logo no dia seguinte a negociação. Saber se um ativo está caro ou barato só se torna claro quando estudamos o cenário E o histórico dele.

Por fim, não siga a maré. Lembre-se sempre dos momentos de se comprar e vender e da máxima do mercado “compre barato e venda caro”. Você nunca vai saber com 100% de certeza se um ativo está barato ou caro, mas você pode se guiar a passos firmes caso esteja bem informado e tenha uma boa estrutura de planejamento.

Lembre-se do que aconteceu na crise das “pontocom” nos anos 90. Diversas pessoas supervalorizaram empresas de tecnologia, mas o preço estava inflacionado e muitos perderam uma boa grana com isso. Isso não impediu muita gente de entrar no negócio perto do estourar da bolha. “Está todo mundo falando dessas ‘pontocom’ dizem que é dinheiro fácil. Quero uma bocada desse bolo” disse o investidor desavisado que não fez sua pesquisa e viu seus ativos praticamente virarem pó.

4 – Procure sempre uma opinião profissional… Uma não, várias

Bom, já deu para perceber que não dá para confiar nos nossos instintos primitivos, não dá para confiar na opinião da maioria e se quisermos tomar uma decisão bem embasada e o mais correta possível, temos que fazer a nossa pesquisa. Agora, isso não significa que devemos andar pelos corredores, olhando por cima dos ombros e descartando tudo o que ouvimos.

Procure o auxilio de um bom assessor, ou consultor de investimentos. Normalmente um profissional de mercado tem um contato diferenciado com tudo o que está acontecendo. A constância da mudança, os movimentos mais enervantes e os traumas passados calcificaram e lapidaram a postura e o procedimento daqueles que tem um contato direto e diário com o mercado. É sempre muito bom escolher alguns analistas de interesse e seguir certas indicações (claro, nunca ao pé da letra e nunca sem seu estudo prévio).

É comum que você encontre opiniões divergentes e comentários meio ambíguos através da sua análise, mas é comum que situações diferentes geram profissionais com pontos de vista distintos, algo que é muito positivo, pois gera um ambiente plural e diversificado.

Busque se informar sobre as “Top Pics” de várias corretoras. Esse é um termo que se usa para se referir à carteira dos ativos preferidos das financeiras. Não é difícil encontrarmos coesão entre uma corretora X e um banco Y por exemplo. Isso normalmente é indício de que ambas tem uma visão simétrica do mercado e provavelmente seguem uma estratégia coesa.

5 – Vá sem medo

A última dica que você precisa é: Não tenha receio quanto a sua estratégia. Nade contra a corrente ou a favor dela, o que mais vai impactar no seu negócio é a confiança que você tem no seu método e na capacidade daqueles que te orientam. Eu escrevi um guia completo no blog O Primo Rico sobre renda variável e ações que acredito poder contribuir bastante para o seu conhecimento. Para você ler tudo na íntegra, é só clicar aqui.

Não tenha medo de voltar à estaca zero. Se o seu plano estiver se mostrando infrutífero, comece de novo, faça sua pesquise, diversifique as suas orientações e abrace algo novo. O mercado está em constante mudança e essa é uma tendência que você deve acompanhar se quiser sair vencedor dessa região tão desafiadora.

Busque sempre ajuda de alguém mais experiente. Não existe vergonha em não saber ou em tentar e errar, mas sim em não admitir o seu erro!

Agora vá e bons investimentos!!!

Abraço!

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Empreendedor no Mercado Financeiro, Thiago Nigro é Sócio de um Escritório de Investimentos e Responsável pelo blog O Primo Rico, além de ser Educador financeiro e Assessor de Investimentos com o foco em ajudar seus leitores a Investirem Melhor.

3 Comentários

  1. Felipe Souza Elias on

    Texto excelente e esclarecedor.

    Por favor corrija a parte “Não tenha meda de voltar à estaca zero. Se o seu plano estiver se mostrando infrutífero, comece de novo, faça sua pesquise” meda= medo.

    Obrigado por compartilhar o conhecimento e o conteúdo.

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