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Defender a família é fundamental. Acredito que, ainda quando um familiar esteja errado, é preciso estar ao lado dele contra alguém de fora primeiro; e depois, internamente, mostrá-lo o erro – quiçá, até brigar com ele. Portanto, entendo quando o presidente Bolsonaro fica ao lado de um filho numa polêmica.

Porém, é preciso reconhecer que Carlos Bolsonaro passou dos limites. É melhor “jair” impondo-se ao filho brigão, sob pena do próprio presidente perder autoridade. Os episódios contra o Bebianno e contra os liberais, ocorridos em um par de dias, teriam criado excelente oportunidade para restaurar a autoridade presidencial e reforçar a união das forças que compõem o governo.

A questão Bebianno: estopim da crise política

Gustavo Bebianno fora presidente do PSL durante as eleições gerais do ano passado e havia sido nomeado para o cargo de secretário-geral da presidência da República. Há poucos dias, Bebianno esteve envolvido numa polêmica referente a possíveis candidaturas-laranjas e mau uso de verbas do fundo partidário.

O presidente ainda estava no hospital recuperando-se da cirurgia de retirada da bolsa de colostomia. Ao tentar acalmar a imprensa, Bebianno disse que havia conversado com Jair Bolsonaro e que estava tudo bem entre eles. Carlos Bolsonaro usou sua conta do Twitter para chamar Bebianno de mentiroso, o Twitter pessoal do presidente retuitou a mensagem, e a confusão estava instalada.

A legislação eleitoral determina um número mínimo de candidatas mulheres e uma verba mínima do fundo partidário para essas candidaturas. O PSL de Bebianno repassou verbas tardiamente a candidatas que tiveram votações pífias. Bebianno foi acusado de fraude eleitoral. Muitas candidaturas e a liberação de verbas, muito provavelmente, foram atos meramente formais para adequar o PSL à legislação eleitoral.

O leitor que responda à pergunta: se um partido não consegue o número mínimo de candidatas mulheres para as legislaturas, como fazer para garantir que as pessoas interessadas concorram?

A outra solução seria impedir que interessados concorressem – tolhendo, assim, o direito de cidadãos de participarem de eleições. Pessoalmente, eu teria convidado mulheres sem interesse em concorrer.

É fraude? Possivelmente, mas é o jeito de lidar com uma legislação ridícula. O PSL teve a deputada federal e a deputada estadual mais votadas da história do Brasil; e fez a segunda maior bancada da Câmara Federal.

Porém, se não tivesse cumprido o mínimo legal de candidaturas femininas, não haveria eleito ninguém. O problema do Bebianno foi ter fingido mal, mas isso não é crime; a não ser que cumprir a lei seja crime.

Carlos Bolsonaro: o pivô da crise política

O problema é um pouco mais complexo que isso. Há outras questões envolvidas no caso, mas a principal em que Bebianno esteja envolvido é essa.

Pode ser que ele seja culpado de algo grave? Pode. Mas isso teria que surgir no decorrer das investigações. Até o momento, não há nada além do que o descrito acima.

Carlos Bolsonaro, no entanto, acusou o secretário de governo de mentir. E se fosse mentira? Não havia necessidade alguma de o governo entrar em choque e isolar Bebianno; e esse era exatamente o ponto que Bebianno estava fazendo.

Nisso, ele estava falando a verdade. A mentira era perfeitamente sanável assim que o presidente saísse do hospital e voltasse à Brasília.

Após o fato, outras hipóteses vieram à tona, tais como: Bebianno iria jogar o caso no colo de Bolsonaro; e Bebianno era informante da imprensa. Tudo isso pode ser verdade, mas nenhuma justificaria a ação do Carlos Bolsonaro.

Bebianno poderia ser afastado, como, no fim, acabou sendo, sem que o gabinete presidencial entrasse em crise. No entanto, os colegas de Bebianno do quarto andar do Planalto (Onyx, Heleno, e Sousa Cruz) viram-se obrigados a reunirem-se com o presidente para tentar contornar a situação. Por mim, Bebianno nem precisaria sair agora.

Porém, fosse essa a opinião do presidente, bastava que essa reunião fosse feita nesta segunda, com o Bebianno, para convencê-lo de que, durante as investigações, seria melhor que ele ficasse de fora.

Isso, no entanto, não renderia nenhuma manchete ao Carlos Bolsonaro – tratado como gênio por vários de seus defensores; e tampouco mancharia a imagem de Bebianno. E é aqui que está todo o problema.

Campanha x governo

É inegável a relevância do papel do Carlos cuidando da comunicação social durante a campanha eleitoral. A campanha para 2022 já começou, e a presença dele segue sendo importante. Governar, no entanto, é diferente.

E se o governo seguirá o lema “Brasil Acima de Tudo, Deus Acima de Todos”, picuinhas pessoais devem ser relegadas a segundo plano em prol de objetivos maiores. Não se pode brigar com todo mundo.

Na véspera da confusão com Bebianno, Carlos Bolsonaro comprara outra briga pelo Twitter. Carlos criticou “liberais”, chamando os “mascarados que vendem até a mãe para chegarem aonde pretendem”. Ao invés de nominar quem ele entende que esteja agindo assim e dar exemplos concretos, preferiu generalizar contra os “liberais”.

Por causa dessa atitude infantil, acabou atacando todos os liberais que fazem parte do governo — incluindo quatro membros do gabinete do pai: Onyx, Guedes, Vélez, e Salles. Imaginem o rolo que poderia ter sido, caso algum deles tivesse levado o tuíte a sério.

Carlos, Bebianno, e os Liberais: a unidade do governo abalada

Para quem não sabe, o Carlos Bolsonaro tem uma rusga com pessoas ligadas ao MBL, Movimento Brasil Livre. Não sei quando a relação ficou ruim, se é que alguma vez já esteve boa, mas a tensão entre as partes apenas cresceu durante a campanha.

Mesmo após a vitória, a situação não melhorou. O Carlos, inclusive, teria vetado à presença do MBL na cobertura da posse do Jair Bolsonaro. Desde então, não há sinais de parte alguma de que haverá conciliação.

Da mesma forma, foi noticiado que Carlos e Bebianno se estranharam durante o período de transição. Posso estar completamente equivocado na leitura dos casos, mas passam a imagem de que Carlos tem problemas em lidar com desafetos e de conciliar.

Contudo, não se faz política brigando com todo mundo. Esse tipo de atitude não acrescenta muito e, incontida, pode trazer graves consequências ao governo do pai dele.

Há liberais falando besteiras sobre o governo? Muito provavelmente. Bebianno pode ser um quinta-coluna e estar envolvido nas maiores barbaridades? Convém nunca se descartar nada, ainda mais em política. Porém, é preciso atentar as circunstâncias. Há um modo apropriado para se lidar com esses tipos de questões.

Existem entre os liberais indivíduos de todos os tipos, até quem faça bobagem. Esses, porém, não são representativos; os representativos estão dentro do governo. Carlos poderia ao menos ter nomeado alguns e dado exemplos.

Deve haver no governo quem vaze informações para jornalistas; mas isso é questão para ser resolvida internamente e não, nas redes sociais. Deve haver, igualmente, quem esteja envolvido nalgum tipo de irregularidade; contudo, isso deve ser investigado e tratado caso a caso.

Por um acaso, Carlos quer que, devido à meia dúzia de desafetos liberais que ele tenha, o Jair Bolsonaro perca o apoio de todos aqueles que estão no governo? Por ventura, ele crê ser adequado às pessoas no Executivo federal temerem a opinião do filho do presidente, de um vereador do Rio de Janeiro? Espera-se que não.

O governo é formado por uma coalização de grupos distintos que se toleram mutuamente, mas que discordam entre si de diversos assuntos. A força do governo está na união desses grupos, mantida pelo equilíbrio de forças e pela preservação de um tênue consenso.

Nesse ponto, a autoridade presidencial é fundamental. O presidente eleito é quem montou o gabinete e a quem os ministros respondem.

Conclusão

Na coalização de Bolsonaro, os liberais têm bastante peso. Há quatro ministros liberais no gabinete do governo Bolsonaro. Isso são quase 20% de todas as pastas.

O número equivalente na Câmara Federal seria algo em torno de 100 deputados, mas o número da bancada liberal é cerca de um terço disso. Os liberais estão supervalorizados no Executivo, mesmo desconsiderando o superministério da Economia de Guedes e a importância da Casa Civil de Onyx.

Todavia, ainda assim, há uma crescente oposição liberal ao governo federal. Por quê? Por causa dessas rusgas ridículas do Carlos Bolsonaro com alguns liberais. A briga com Bebianno apenas agravou a questão, além de criar outros problemas. Afinal, agora todos os grupos estão de olho no Carlos Bolsonaro.

O episódio Bebianno mostra que há, sim, uma tentativa de demonstração de poder por parte do Carlos Bolsonaro. Ele já conseguiu afastar o desafeto; que se contente com isso. Jair Bolsonaro precisa mostrar para todos – e para seus filhos, especialmente para o Carlos – quem é o presidente da República. A tarefa não é simples com todo mundo ajudando; quando a própria família atrapalha, então, fica tudo mais difícil.

 

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Mestre em Direito (UFRGS) e em Política (CUA, EUA), tendo escrito e apresentado trabalhos, no Brasil e no exterior, sobre os pensamentos de Eric Voegelin, Russell Kirk, e Platão, sobre a história política americana, e sobre direito internacional. Fez movimento estudantil de Direita quando a Direita brasileira toda entrava numa kombi e sobrava, e quase apanhou do ator Danny Glover em ação promovida pelo IL/RS num Fórum Social Mundial. Hoje é casado, pai de dois filhos, mora no interior do Rio Grande do Sul, na fronteira entre a civilização e a Argentina, joga rúgbi, administra a estância da família (Santo Antônio da Askatasuna), e só cria confusão pela internet.

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