Quem estuda sobre economia provavelmente se depara com a Escola Austríaca de pensamento econômico. Ela trouxe diversos conceitos importantes para esse ramo, além de ter pensadores de relevância. Entre eles, está Hans-Hermann Hoppe.
Você conhece esse estudioso e suas principais ideias sobre o tema? Entender essas questões pode ajudar a compreender as decisões econômicas e políticas, e ainda desenvolver suas próprias ideias sobre economia.
Ficou interessado? Então continue a leitura para conhecer melhor Hans-Hermann Hoppe e suas contribuições para o pensamento econômico e político!
Quem foi Hans-Hermann Hoppe?
Para começar a entender as ideias e teorias de Hans-Hermann Hoppe, é preciso conhecer sua história e formação. Ele nasceu em setembro de 1949, em Peine, na então Alemanha Ocidental.
Durante sua juventude, Hans-Hermann fez a graduação na Universitat des Saarlandes e mestrado e doutorado na Goethe University Frankfurt. Lá, ele foi orientando de Jurgen Habermas — um estudioso alemão do Pós-Guerra, bastante influente na área de teoria crítica e pragmatismo.
Todas as formações de Hans-Hermann se deram na área de ciências sociais, como economia, filosofia econômica, política e cultura. Contudo, ele se afastou das teorias e pensamentos de Habermas e da área da esquerda de forma geral.
Hans-Hermann fez pós-doutorado na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, em 1978. Em 1981, ele obteve habilitação em Fundamentos de Sociologia e Economia na Universidade de Frankfurt.
De 1986 até sua aposentadoria, 22 anos depois, Hans-Hermann foi professor na Business School da Universidade de Las Vegas.
Durante esse período, no ano de 2006, ele fundou a Sociedade da Propriedade e Liberdade (PFS na sigla em inglês). A ideia dessa sociedade é esclarecer e explicar como seria uma nação ou uma organização sem a presença do Estado, completamente livre.
Hans-Hermann também foi um dos responsáveis teóricos pela fundação do Instituto Mises, juntamente a outros intelectuais da área. Entre eles estão Murray Rothbard, o próprio Ludwig von Mises e Lew Rockwell.
Assim, Hoppe foi um dos discípulos de Rothbard e Mises, principalmente em relação à Escola Austríaca de economia e libertarianismo. Inclusive, Hermann mudou-se da Alemanha para Nova York para trabalhar com Rothbard — o que o fez até o falecimento de seu mestre, em 1995.
Que teorias e ideias ele defendia?
Você já viu que Hans-Hermann era um estudioso e teórico da Escola Austríaca e do libertarismo, seguindo os passos de Rothbard e Mises. Mas o que esses conceitos representam e o que Hoppe defendia?
Confira!
Escola Austríaca
A Escola Austríaca de pensamento econômico, também conhecida como Escola de Viena — dada sua origem — é uma das mais importantes correntes de pensamento econômico. Ela começou a ganhar forma no século XIX e ainda é muito influente entre os economistas.
A principal defesa dessa Escola em relação à economia é a autorregulação do mercado. Desse modo, ela dá ênfase à livre concorrência, ao livre mercado e outros conceitos importantes, descartando intervenções de terceiros.
A Escola Austríaca defende que as escolhas de indivíduos e suas personalidades no mercado fazem com que seja impossível medir a economia matematicamente. Nesse contexto, a economia é apenas o reflexo de cada escolha e atitude realizada durante o livre comércio.
A ideia principal dessa Escola é baseada no liberalismo econômico. Assim, ela defende pontos como o funcionamento independente do mercado, sem controle estatal, taxas ou impostos.
Libertarismo
Essa corrente econômica também embasou outra ideia bastante defendida por Hans-Hermann — o libertarismo. Ele pode ser considerado uma evolução do liberalismo econômico, indo mais a fundo na questão de liberdades individuais e da economia.
O libertarismo prega que a intervenção estatal deve ser mínima em todos os aspectos da vida em sociedade. Em correntes mais radicais — também defendidas por Hoppe — se fala em extinção completa do Estado, com preservação do capitalismo.
Essa última corrente é defendida pelo anarcocapitalismo. Trata-se de uma teoria econômica, social e política da qual Hans-Hermann se utiliza.
Ética argumentativa
Hans-Hermann chamou uma de suas principais teorias de ética argumentativa. Conforme o estudioso, qualquer argumento que contrarie os princípios do libertarianismo é logicamente incoerente.
Isso se dá porque, em uma discussão sobre política ou qualquer assunto, as pessoas devem pressupor normas de argumentação. Entre essas normas, uma das principais é a proibição de iniciar violência — seja ela física ou verbal.
Extrapolando esse conceito, Hoppe diz que todas as normas sobre argumentação devem valer em qualquer contexto político. Para ele, apenas o libertarismo anarcocapitalista proíbe de forma enfática a agressão (segundo o princípio da não agressão).
Logo, qualquer argumento que não utilize o libertarianismo anarcocapitalista para uma discussão política é incoerente.
Democracia
Hans-Hermann também tem ideias específicas sobre a democracia. Inclusive, ele escreveu um livro intitulado “Democracia: o Deus que Falhou”. Segundo ele, essa forma de Governo trouxe diversos fracassos durante a história.
Então Hermann propôs diversas alternativas e remédios para os problemas da democracia, como descentralização, liberdade de contrato e comércio. Ainda, ele compara monarquias a democracias e dá preferência à primeira modalidade.
Segundo Hans-Hermann, o rei seria como um dono do país, principalmente por conta da vitaliciedade e da hereditariedade. Dessa maneira, ele teria uma visão de longo prazo a respeito do que é melhor para o país — e não apenas de curto prazo, como ocorre em democracias.
Imigração
Esse pensador libertarianista também é bastante conhecido por suas ideias a respeito da imigração. Ele publicou um livro chamado “Ordem Natural, o Estado, e o Problema da Imigração”. Apesar de ser a favor da liberdade individual irrestrita, Hermann não vê necessidade de haver fronteiras abertas.
Assim, ele propõe que a propriedade privada deve ser protegida juridicamente de forma absoluta. Desse modo, seria possível não admitir que pessoas de outros países migrem para diferentes terras, utilizando inclusive a força física e demais meios de expulsão.
Hans-Hermann defende que pessoas conservadoras não devem admitir que outros indivíduos subvertam seus costumes e maneiras de viver. Isso é conhecido como visão cultural hoppeana do anarcocapitalismo, trazendo diversas críticas ao autor.
No mesmo contexto, Hoppe considera que é possível criar comunidades libertárias baseadas em raça. Portanto, elas poderiam admitir apenas pessoas com determinadas características ou de poder aquisitivos específicos.
Polêmicas e libertarianismo
Algumas ideias apresentadas por Hans Hermann Hoppe são polêmicas. Por isso é importante compreender algumas bases do pensamento libertário para formular uma opinião sobre suas proposições. Veja só:
Ideias de comunidades libertárias
Quando é citada a ideia absurda de “comunidades libertárias baseadas em raça”, não se parte do pressuposto de que existam raças superiores ou inferiores, nem que uma raça deva escravizar ou exterminar a outra.
Na verdade, a ideia parte do princípio libertário de que a liberdade individual e irrestrita desobrigaria um indivíduo a conviver com quem ele não deseja conviver.
Sob a mesma lógica seria possível a criação de comunidades libertárias de torcedores do time do Botafogo se estes assim desejassem — e o mesmo vale para grupos de qualquer interesse. Ou seja, com base religiosa, política etc. Poderiam ser comunidades libertárias sob qualquer ótica.
Então cada grupo poderia viver num território cujo regramento social esteja ajustado ao que deseja aderir. A premissa é que as pessoas não deveriam conviver com outras de maneira forçada — o que acaba acontecendo quando se estabelecem as delimitações dos Estados.
Inclusive, uma das consequências esperadas pelos libertários para esse tipo de situação é que a integração entre grupos surgiria naturalmente a partir do comércio. Uma vez que os indivíduos não produzem tudo o que possuem em suas casas, eles teriam que praticar o comércio voluntário e a cooperação.
Dessa maneira, a convivência não forçada existiria e com grande potencial de que fosse harmônica, pois no final das contas todos os grupos se beneficiariam da cooperação voluntária.
Respeito aos costumes individuais e maneira de viver
Outro ponto relevante é que, ao afirmar que “pessoas conservadoras não devem admitir que outros indivíduos subvertam seus costumes e maneiras de viver”, o inverso também é válido.
Ou seja, pessoas progressistas não deveriam ser tolhidas de avançar em suas pautas com maior velocidade caso vivessem numa comunidade que compartilhe os mesmos valores.
Proteção à propriedade privada e imigração
Quando Hans Hermann Hoppe propõe que a “propriedade privada deve ser protegida juridicamente de forma absoluta” e que, dessa forma, seria possível “não admitir que pessoas de outros países migrem para diferentes terras”, o inverso também seria válido.
Portanto, um indivíduo poderia aceitar um imigrante em sua propriedade privada quando quisesse, sem que terceiros (Estado) pudesse impedi-lo. No modelo atual, um indivíduo que possui uma determinada propriedade não pode aceitar um imigrante no local sem autorização do Estado. Afinal, é o Governo que concede (ou não) seu ingresso no país.
A premissa nesse caso é a liberdade individual e a propriedade privada: se um indivíduo possui mesmo uma propriedade privada, é ele quem define quem pode e quem não pode entrar ali.
Libertarianismo, direita e esquerda
Muitas dúvidas surgem a respeito do posicionamento libertário sob a ótica da direita ou da esquerda. Entretanto, o posicionamento dessa corrente não pode ser analisado sob esse prisma.
Na verdade, o prisma correto de análise do libertarianismo é em oposição ao autoritarismo. Ou seja, um libertário pode ser favorável a diversas pautas consideradas de direita ou de esquerda sem, no entanto, ser favorável às pautas autoritárias de ambos os lados.
Um libertário pode apoiar o direito de um indivíduo possuir armas, que é uma pauta alinhada com a direita. Porém, ao mesmo tempo, ele pode apoiar a liberação do uso de drogas ou o aborto, que são pautas progressistas.
A base do pensamento libertário apoia-se sempre nas premissas: liberdade individual, propriedade privada e não agressão. Isso porque o direito à vida faz parte também das bases do pensamento libertário pelo entendimento de que o corpo é a primeira propriedade de um indivíduo.
Agora você já conhece Hans-Hermann Hoppe, suas ideias e algumas premissas do pensamento libertário! Conhecer os pensadores é importante para compreender melhor a economia e os diversos caminhos que ela pode tomar. Ademais, você pode avaliar se está ou não de acordo com as teorias econômicas que eles defendem.
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