Você já ouviu sobre a “briga” entre Keynes e Hayek? Se não, saiba que as teorias desses dois economistas moldaram a forma como a economia mundial se comporta até hoje. Na prática, o mundo praticamente é governado apenas por essas duas correntes de pensamento.
Em épocas de turbulência na economia, os dois tiveram visões opostas e muito influentes. Com isso, a “guerra” entre eles ficou conhecida como o maior duelo econômico do século. Afinal, os pensadores vinham de realidades diferentes e costumavam discordar em relação a suas teorias econômicas.
Então que tal descobrir o que cada um pensava? Entenda as percepções de Keynes e Hayek e veja como as correntes de pensamento deles impactam a economia atual!
O que são e como funcionam as teorias econômicas?
A teoria econômica é um conjunto de ideias e princípios voltado à economia de um país ou de um período específico. Ela pode ser desenvolvida com base em estudos teóricos e práticos de determinado sistema econômico.
As teorias desse tipo funcionam como uma espécie de referência, indicando o que deveria acontecer para solucionar um problema ou alcançar um objetivo. Logo, elas podem ser utilizadas em momentos de crise ou para gerar um nível de crescimento econômico desejado, por exemplo.
Devido à complexidade ou amplitude que elas costumam apresentar, as teorias são desenvolvidas por especialistas, como economistas. Porém, também é comum que os responsáveis pelas teorias se inspirem em correntes de pensamento anteriores.
Além disso, a teoria pode se basear em elementos, como:
- problemas econômicos;
- indicadores da economia;
- comportamento do mercado;
- oferta e demanda;
- perspectivas de crescimento;
- ambiente externo;
- mercado monetário e mais.
A importância das teorias econômicas
Após entender o que é uma teoria econômica, fica mais fácil compreender a sua função. Ela pode servir, por exemplo, para explicar um fenômeno econômico, como a inflação, a taxa de desemprego ou os investimentos estrangeiros.
A teoria econômica também tende a ser útil para apresentar perspectivas sobre o cenário. Ela pode fazer projeções sobre os impactos da atuação do Estado ou da falta de interferência estatal, por exemplo.
Ainda, uma teoria como essa serve de orientação para a tomada de decisão — em especial, por parte dos Governos. Na condução da economia rumo ao crescimento ou na realização de reformas estruturais, é possível utilizar uma teoria consolidada para definir qual deve ser o meio de agir.
Ademais, ela é relevante para apoiar a condução econômica de um país durante uma crise. A adoção dos preceitos de uma metodologia pode ajudar a nação a superar os principais desafios de um cenário de incertezas.
Quem foi John Maynard Keynes e o que ele defendia?
Para conhecer um dos grandes nomes das teorias econômicas, é essencial saber quem foi John Maynard Keynes. Nascido em 1883, ele se formou em economia pelo King’s College London, da Universidade de Cambridge.
Após entrar na universidade, Keynes foi influenciado por Alfred Marshall a trocar o interesse em matemática por política e economia. Posteriormente, Marshall seria um dos principais mentores de Keynes.
O primeiro trabalho relevante de Keynes foi publicado pouco antes da Primeira Guerra Mundial e abordava a economia da Índia. Ele também trabalhou no Tesouro Britânico e teve funções relevantes, participando das negociações após a Primeira Guerra Mundial, na Conferência de Paz de Versalhes.
Além disso, o pensador foi um dos principais idealizadores do famoso acordo de Bretton Woods. O pacto foi composto por 45 países e ajudou a firmar o sistema monetário internacional.
Com o passar das décadas, Keynes começou a focar sua teoria econômica no desemprego prolongado, buscando ajustes a partir da teoria econômica vigente. Então ele publicou outros trabalhos que ganharam relevância, principalmente, entre 1940 e 1980.
Ainda, a atuação de Keynes influenciou o pensamento de outros economistas. Entre eles, estão Thomas Piketty, autor do best seller “O capital no século XXI”, e John Kenneth Galbraith. O falecimento de Keynes aconteceu em 1946.
Keynesianismo
A partir do trabalho de toda a sua vida, Keynes desenvolveu a Teoria Keynesiana ou keynesianismo. Nessa corrente de pensamento, o Estado tem papel relevante e muito presente na construção de uma nação.
Além disso, Keynes se pautava pela macroeconomia. Portanto, ele defendia que a economia deveria ser compreendida pelo quadro geral. Assim, a ideia é analisar tópicos como oferta, demanda e taxa de juros do cenário para entender o funcionamento da economia.
O keynesianismo também propôs um regime que controlasse a inflação e gerasse emprego para a população. Dessa forma, o desemprego acabaria, pois todos poderiam ter oportunidades no sistema capitalista.
Outro conceito defendido por essa corrente é o dever do Estado em oferecer benefícios sociais aos trabalhadores, como seguro-desemprego, salário mínimo e saúde pública.
Logo, a ideia é que o Governo deveria proporcionar uma vida digna à sua população. Foi essa teoria que originou o conceito de estado de bem-estar social.
No geral, Keynes acreditava que o Estado deveria intervir para impulsionar os investimentos. Em tempos de crises econômicas, seria melhor ter o dinheiro em circulação do que abrir mão de emprestá-lo ou gastá-lo, evitando medidas de austeridade.
Pode-se dizer, então, que Keynes defendia pontos, como:
- intervenção do Estado na economia;
- Estado como o provedor de uma vida digna aos cidadãos;
- investimento de capital pelo Governo;
- protecionismo (proteger o mercado interno da concorrência externa) e equilíbrio econômico;
- redução das taxas de juros;
- equilíbrio entre a demanda e a produção;
- garantia de pleno emprego;
- benefícios sociais.
Onde o keynesianismo foi aplicado
Os ideais de John Maynard Keynes estão presentes em variadas economias ao redor do mundo. Diversos países tentam aplicar o conceito de bem-estar social e outras ideias, como benefícios sociais e intervenção do Estado na economia, em maior ou menor grau.
O New Deal, sistema adotado pelo ex-presidente estadunidense Franklin Delano Roosevelt, foi um grande exemplo da aplicação do keynesianismo e do conceito de bem-estar social. Foi nessa época que os EUA viveram o maior desenvolvimento na construção civil.
Nessa fase, ocorreu a construção de grandes edifícios, pontes e pavimentação de estradas e mais. Elas foram coordenadas por agências federais e geravam empregos diretos.
O keynesianismo também foi observado, em níveis distintos, ao longo de diversas crises econômicas após a Segunda Guerra Mundial. Em 2020, por exemplo, a crise de covid-19 fez com que muitos países saíssem em socorro econômico de empresas e da população.
Nos Estados Unidos, foi implementado um estímulo de mais de 1 trilhão de dólares. No Brasil, houve o pagamento do Auxílio Emergencial para quem perdeu a renda, entre outros exemplos.
Vale destacar que essa corrente não deve ser confundida com o socialismo. Tenha em mente que ela se aplica ao sistema capitalista e não prevê um sistema de produção planificada.
Quem foi Friedrich August von Hayek e o ele que defendia?
Depois de conhecer Keynes, vale a pena compreender a contribuição econômica de Friedrich August von Hayek. O economista nasceu na Áustria em 1899 e faleceu em 1992.
Com 23 anos, Hayek já tinha mestrado em Direito e Ciência Política. Seu segundo título foi obtido em seus estudos com Friedrich von Wieser. Dessa vez, ele recebeu o título em Política Econômica, pela Universidade de Viena.
Pouco depois, ele conheceu Ludwig von Mises, outro nome de peso da Escola Austríaca de Economia. Com isso, Mises se transformou no mentor de Hayek, que passou a desenvolver a própria visão e política econômica.
Ao longo de sua carreira, Hayek também se tornou professor de grandes instituições, como nas Universidades de Chicago, de Freiburg e de Salzburg. Em 1974, ele ganhou o Prêmio Nobel de Economia, que foi dividido com Gunnar Myrdal.
Outro ponto importante é que Hayek influenciou muitos outros profissionais, como Milton Friedman. Ainda, ele teve grande contribuição para a atuação de Governos em diferentes períodos.
O que Hayek defendia
Para entender o que Hayek argumentava, é necessário voltar aos conhecimentos consolidados por Adam Smith. Ele foi o economista responsável por criar a teoria relacionada ao liberalismo econômico.
Essa é uma corrente que defende que os cidadãos têm direito ao voto e à liberdade individual, social, econômica, política e religiosa. Na prática, tudo isso acontece em um regime de livre mercado.
Como consequência, a teoria liberal aponta que o Estado deve interferir o mínimo possível na economia. Hayek, então, baseou sua teoria econômica nessa corrente de pensamento. Logo, o economista austríaco se tornou um dos principais defensores do liberalismo.
Portanto, ele acreditava que as decisões tomadas pelo Estado levariam ao fracasso. A lógica envolveria o dinamismo da economia, o que tornaria inviável para o Estado tomar a melhor decisão para todos.
Portanto, Hayek acreditava que as pessoas deveriam ser responsáveis pelas decisões econômicas, por meio de suas escolhas diárias. Ainda segundo ele, a economia se desenvolveria no longo prazo e poderia se ajustar com as variáveis, como o preço.
Assim, podemos dizer que F. A Hayek defendia os seguintes aspectos:
- ausência de intervenção do Estado;
- o preço é uma variável do ajuste econômico;
- o indivíduo é capaz de tomar a melhor decisão econômica;
- nenhum agente econômico tem todas as informações;
- o livre mercado deve prevalecer.
Sendo assim, Hayek defendia a microeconomia — ao contrário de Keynes, que focava a macroeconomia. Desse modo, ele acreditava que era impossível entender a economia como um todo e que era preciso analisar a ação dos indivíduos no mercado — verificando itens como custo e valor, dentre outros.
Onde a teoria de Hayek foi aplicada
O modelo de pensamento de Hayek foi especialmente importante para consolidar as teorias liberais e neoliberais. Países que aplicam esse conceito acabam utilizando as ideias de Hayek em sua condução econômica, como foi o caso do Governo do estadunidense Ronald Reagan e da britânica Margaret Thatcher.
Na América do Sul, um exemplo de regime neoliberalista ocorreu no Chile, em 1973. Nessa época, o país foi comandado por Augusto Pinochet, após um golpe de Estado.
Keynes x Hayek: qual dos dois está certo?
Como você viu até aqui, a disputa entre Keynes e Hayek é composta por polos diametralmente opostos. As duas correntes de pensamento são bem diferentes entre si e é comum que haja a dúvida: quem está certo?
No entanto, não é possível afirmar que uma teoria está correta e a outra, errada. Na verdade, existe a chance de tecer críticas e apontar benefícios tanto na teoria derivada da Escola Austríaca quanto no keynesianismo.
Afinal, Keynes era a favor de um Estado forte, regulador e protagonista, em busca do bem-estar do povo. Já Hayek defendia o liberalismo, focando no que é conhecido como laissez-faire (deixar fazer, na tradução). Logo, para ele, deveria haver pouca ou nenhuma atuação estatal no mercado e as pessoas deveriam trabalhar para o próprio bem-estar.
Porém, os diferentes contextos econômicos já fizeram com que uma teoria fosse aplicada em detrimento da outra e em busca de resultados específicos. O keynesianismo, por exemplo, foi utilizado quando o liberalismo apresentou problemas.
Ao mesmo tempo, a teoria nem sempre foi aplicada na totalidade. Afinal, junto à intervenção estatal, Keynes acreditava em um aumento de impostos — o que era rechaçado por Hayek. Em muitas oportunidades, os países tiveram práticas intervencionistas, mas optaram por não mexer na carga tributária.
Além disso, mudanças geopolíticas e de comportamento alteraram as disposições econômicas. Com a globalização, por exemplo, o neoliberalismo ganhou espaço, por defender ideias como privatização de empresas, abertura econômica com livre circulação de capital internacional e outros aspectos.
Teorias intermediárias e adaptações
Outro ponto para considerar é a existência de teorias econômicas intermediárias. Considerando que ambos os modelos têm falhas, outras teorias já foram desenvolvidas, buscando aproveitar o melhor de cada uma das abordagens.
Portanto, a condução econômica de um país não tem que se limitar às duas propostas definidas por esses dois profissionais. Contudo, são linhas de pensamento que ajudam a embasar outras metodologias.
Já se você quiser conhecer mais sobre a Escola Austríaca, Hayek, Keynes e bem-estar social, vale a pena buscar livros sobre o assunto. Assim, você entenderá melhor cada corrente e poderá tirar as próprias conclusões sobre o debate entre as duas concepções.
Como você viu, os pensamentos de Keynes e Hayek são opostos quando envolvem a condução da economia de um país. No entanto, ambas as correntes já influenciaram o cenário nacional e internacional e interferiram em sua realidade em diferentes momentos. Por isso, vale a pena conhecê-las para ficar cada vez mais consciente sobre os impactos.
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